Carneiro reúne seus
Familiares, realiza Grande Confraternização em Formoso e homenageia o Patriarca
Levi
XIKO MENDES
Foi promovido
no sábado, 20/4, o maior evento
social dos últimos tempos na bela cidade de Formoso-MG. Uma multidão se reuniu
na Cozinha Comunitária para festejar uma rara e singular celebração natalícia
em honra aos cem anos bem vividos de Seu Levi Carneiro Magalhães. Foi oferecido
um apetitoso almoço de confraternização regado a belíssimas apresentações e
discursos efusivos de personalidades, entre as quais, Joaquim Borges Carneiro,
Joaquim Ornelas, a Prefeita Nena Marchese, o vice-prefeito Edimar Carneiro,
Xiko Mendes e Zeneide Carneiro (anfitriã do evento). A família Carneiro cuja
história de pioneirismo remonta ao século XIX, decidiu juntar amigos e sua
parentela espalhada em diferentes lugares do Brasil (Goiânia, Brasília, Cuiabá,
Arinos, Buritis, São Paulo, Formosa, Sítio da Abadia, etc) para que, irmanados
pela fraternidade cívica e genealógica, prestasse homenagens emocionantes ao
Seu Levi, ex-vereador de Formoso por três vezes e venerável varão desse ilustre
patriarcado.
Famosa na
História e na boca do povo pela preocupação em valorizar a cultura e promover a
formação intelectual de seus descendentes, os Carneiros estão inseridos no
contexto político e social de Formoso desde os anos 1840. Naquela década, o
fazendeiro formosense Silvério Mendes Teixeira, patriarca fundador da família
Mendes de Queiróz, iniciou nova família casando-se em segundas núpcias com Dona Bernardina Maria da Purificação CARNEIRO
da Rocha e Silva, que veio de Januária em lobo de burro. Ela deixou para
trás a velha Januária que até os anos 1960 era a Capital Regional do
norte-noroeste de Minas, oeste baiano e nordeste goiano. Como porto, centro
cultural e comercial do rio São Francisco, Januária marcou a vida intelectual
do interior, e deixou marcas entre os Carneiros. Dona Bernardina e seu Silvério
deram origem a uma das famílias que sempre foi focada no valor do conhecimento
como virtude inseparável do trabalho na busca do progresso familiar e dos
Municípios de Formoso, Januária e Arinos onde se misturaram com os Valadares,
Magalhães, Ornelas, Martins, Wajmann, Maciel, entre outras.
Duas filhas do
casal Silvério e Bernardina fundaram o clã em Formoso. Maria Antônia Carneiro
Mendes casou-se com José Borges Carneiro, januarense e parente de Dona
Bernardina. A irmã dela, Maria da Encarnação C. Mendes tornou-se esposa de
Joaquim B. Carneiro, irmão de José. Foram ambos morar em Bela Lorena, ali
fundando a mais representativa fazenda do interior brasileiro destacando-se como
pólo de desenvolvimento em todo o período que Formoso foi distrito de Paracatu
e São Romão (1870-1962). Na década de
1860, os irmãos José e Joaquim Borges, genros de Silvério Mendes, construíram
um verdadeiro império transformando Bela Lorena em ponto de referência social,
cultural e econômica de toda a região do Vale do Rio Carinhanha, fronteira
entre Bahia e Minas.
A família
Borges Carneiro uniu a cultura que Dona Bernardina trouxe de sua terra natal,
Januária, com o pioneirismo do desbravador Silvério Mendes, grande colonizador
de Formoso, nas nascentes do Carinhanha. Deram início a uma verdadeira epopéia
com lições de erudição no sertão que mais tarde encantaria o escritor Guimarães
Rosa a eternizá-lo em obras clássicas como o romance “Grande Sertão: Veredas”. Em 170 anos de história, a Família
Carneiro foi responsável pela fundação de empresas de sucesso como a Claudionor Carneiro & Filhos,
fábrica de cachaça em Januária cuja tradição supera o tempo. Também formaram em
curso superior os primeiros cidadãos formosenses, entre eles, Dr. João Borges
Carneiro, que depois elegeu-se vice-prefeito de Januária. Os Carneiros deram a
Formoso o único filho nativo como deputado: Dr. Djalma Rocha, que foi deputado
estadual por vários mandatos em Mato Grosso, Chefe da Casa Civil daquele
estado, líder político em Poconé-MT, Conselheiro, Vice-presidente e Presidente
do Tribunal de Contas matogrossense. Juscelino Carneiro Martins, que se
notabilizou como fazendeiro em Unaí. Todos os escritores nascidos em Formoso são
descendentes de Silvério Mendes e ou de Bernardina Carneiro: João Rocha, Miguel Carneiro, Quinca
Borges e Xiko Mendes.
Benevides
Borges Carneiro, (pai de Quinca Borges), foi ao mesmo tempo vereador dos
distritos de Formoso e Arinos em São Romão-MG, nos anos 1920, além de ter sido
genro do Major Saint Clair F. Valadares, ilustre político e intelectual que
recriou o Município de S. Romão, foi o principal fundador de Arinos e era amigo
íntimo do escritor Afonso Arinos, da Academia
Brasileira de Letras. Saint Clair é bisavô do Escritor arinense Napoleão
Valadares, e este é trineto de Antônia Maria Carneiro Mendes, é autor de
dezenas de livros e advogado do Governo Federal. Miguel Carneiro foi vereador
do Distrito de Formoso (1947-1950), e depois foi vereador de Sítio da Abadia-GO
por dois mandatos quando também tornou-se um dos principais fundadores de
Alvorada do Norte-GO, além de ser historiador do povo sitiense e formosense. A
maioria dos escrivães do cartório de Formoso era da família Carneiro em toda a
primeira metade do século XX. Até a década de 1970, Bela Lorena aparecia nos
mapas do Brasil e não a Vila Formoso, o que mostra a relevância geopolítica
regional daquela fazenda.
Além desses,
vários integrantes da família Carneiro se destacaram sendo eleitos para
mandatos em cidades como Formoso e Arinos, entre os quais, podemos citar
Joaquim B. Carneiro (Quinca Borges, vereador e escritor memorialista), Assuero
Carneiro (recém-falecido) e Levi Carneiro (que ajudaram Formoso a
emancipar-se), Edgar Carneiro e Edmar Carneiro (vice-prefeitos de Formoso),
Augusto José de Almeida, Izoldino Carneiro, Joaquim Carneiro Ornelas (Quincão),
Jurandir Carneiro, que também foram vereadores, entre tantos outros.
Bela Lorena,
mais que uma fazenda, simboliza o espírito civilizatório do povo urucuiano e se
constitui como um grande repositório de informações e documentos da história de
Formoso e da região. Em nenhum outro lugar de Formoso e quiçá do
Brasil-interior encontramos tantos vestígios preservados da Civilização no
Sertão Brasileiro, com acervos tão valiosos para compreender a alma heroica dos
pioneiros do povoamento do nosso país, a saga bandeirante pelo desbravamento do
sertão indômito, e a epopeia grandiosa de patriarcas fundadores de famílias
colonizadoras como é aqui o caso do casal Silvério Mendes e Bernardina
Carneiro, cujas lembranças gloriosas foram celebradas durante a Solenidade
Comemorativa ao Centenário do Ex-vereador Levi Carneiro Magalhães nos dias 19 e
20 de abril de 2013, que entraram emblematicamente para a História da Região do
Marco Trijunção.
Que os
políticos de Formoso, com ou sem mandato, vejam em eventos como este um momento
de reflexão sincera contra o descaso do Poder Público em relação à preservação
do Patrimônio Histórico, Cultural e Socioambiental do Povo Brasileiro. Bela
Lorena poderia muito bem ser o Memorial
do Povo Formosense caso alguma alma sensível à beleza e às artes no mundo
político local visualize nos horizontes a idéia de que um Povo sem Memória é
presa fácil da demagogia e prisioneiro do silêncio coletivo danoso ao futuro e
ao desenvolvimento local integrado sustentável das comunidades tradicionais
desse Brasil que, mais uma vez repetimos, tanto seduziu intelectuais como
Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Afonso Arinos. A ONG UNIFAM, órgão editor desse Jornal, e o historiador Xiko Mendes, há
anos têm projetos nesse sentido, mas sem eco nos gabinetes oficiais. Talvez
agora, com a nova conjuntura política local, o senso estético e o valor à
memória entrem na pauta das políticas públicas em Formoso e nos demais
municípios de nossa região de fronteiras entre Bahia, Goiás e Minas.