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31/01/2012

CAMARA MUNICIPAL DE FORMOSO-MG (mais de 40 anos de história)

EFEMÉRIDES DA CÂMARA MUNICIPAL DE FORMOSO-MG (DATAS MARCANTES ao longo do Processo de Independência Institucional).

• 5/8/1964: Criação e instalação da Câmara Municipal.
• 15/10/1964: É nomeado o primeiro funcionário da Câmara, Sr. Getúlio Jerônimo Barbosa, como Assessor Técnico.
• 18/2/1970: São cassados dois vereadores de Formoso (Claudemiro Pereira Lins e Alberto Carneiro Saraiva). Foi praticamente uma imposição do Poder Executivo Municipal.
• 15/3/1990: Vereador Martinho Lopes Ornelas é o primeiro a oficializar pedido de retirada da Câmara Municipal de dentro do prédio da Prefeitura de Formoso.
• 22 de junho de 1990: Vereador José Batista de Araújo, 10ª pessoa Presidente da Câmara Municipal, promulga a primeira Lei Orgânica de Formoso, resultado de trabalho de Comissão presidida pela Vereadora Lourdes S. Maciel tendo como relator o Vereador Geraldo Édson T. Ornelas.
• 8 de agosto de 1990 (há 21 ANOS): Vereador José Batista de Araújo inscreve a Câmara Municipal no antigo CGC (atual CNPJ), ponto de partida para a institucionalização autônoma do Poder Legislativo em Formoso.
• 24 de janeiro de 1991: Entra em vigor Novo Regimento Interno da Câmara Municipal, que cria o Primeiro Quadro Funcional (empregados) regular, uma vez que as duas funcionárias Ane Télcia Pereira de Almeida e Vilma Carneiro Saraiva, funcionárias pioneiras dessa transição, foram contratadas a título precário na gestão do Presidente, Vereador Zé Batista.
• 10 de maio de 1991 (há 20 ANOS): Presidente da Câmara, Vereador Martinho Lopes Ornelas, TRANSFERE A CAMARA MUNICIPAL DE FORMOSO-MG de dentro da Prefeitura para o local onde se encontra hoje cujo prédio foi alugado.
• 18 de abril de 1992: Primeiro concurso público feito em Formoso pela Câmara Municipal de Formoso.
• 14/12/1992: Lei Orgânica do Município sofre primeiras emendas que alteram, integralmente, o seu texto original.
• 1993 – 1994: Presidente da Câmara, Vereador Zenir Pascoal, compra os primeiros computadores e inicia o processo de informatização do Poder Legislativo em Formoso.
• 1995: Vereadora Cacilda T.W. Gurski é a primeira mulher eleita Presidente da Câmara Municipal (mandato de Mesa Diretora passa a ser de apenas um ano).
• 05 de julho de 1996: Presidente da Câmara, Vereador Valdemar L. Cecchetto, compra o prédio antes alugado, e o local transforma-se em SEDE PRÓPRIA DO PODER LEGISLATIVO em Formoso.
• 23 de outubro de 2000: Presidente da Câmara, Vereador Luiz C. Silva (Luizinho), determina o início do funcionamento do prédio da Câmara Municipal construído ao longo de suas gestões, com apoio do Prefeito Orlando José da Silva, que liberou verbas bem acima da cota orçamentária mensal determinada pela legislação.
• 5 de agosto de 2011(sexta-feira): Câmara Municipal de Formoso completa 47 anos de funcionamento regular administrada pela 21ª pessoa a assumir sua Presidência.

Fonte de pesquisa: MENDES, Xiko. Formoso de Minas no final do Século XX -130 Anos, Formoso: Prefeitura Municipal, 2002.

Lista dos 21 Presidentes da Câmara Municipal de Formoso no Período a partir de 5(cinco) de agosto de 1964 até 2011

1. Vereador Osvaldo da Silva Ornelas (Prefeitos: Vande Ornelas e Louri Ornelas/1ª gestão).
2. Vereador Claudemiro Pereira Lins (Prefeitos: Vande Ornelas e Nelson Andrade).
3. Vereador Florípio Alves Santana (Prefeitos: Osvaldo Ornelas, Louri Ornelas/1ª gestão e Nelson Andrade).
4. Vereador José Botelho de Castro (Prefeito: Osvaldo Ornelas).
5. Vereador Nelson Dias Andrade (Prefeitos: Osvaldo Ornelas e José Botelho de Castro).
6. Vereador Joaquim Borges Carneiro (Prefeitos: Nelson Andrade e Louri Ornelas/2ª gestão).
7. Vereador Israel Magalhães Ornelas (Prefeito: Nelson Andrade).
8. Vereador Ramiro Alves de Oliveira (Prefeito: Louri Ornelas/2ª gestão).
9. Vereador Vilmar Teixeira Ornelas (Prefeito: Louri Ornelas/2ª gestão).
10. Vereador José Batista de Araújo (Prefeito: Orlando Silva/1ª gestão).
11. Vereador Martinho Lopes Ornelas (Prefeito: Orlando Silva/1ª gestão).
12. Vereador Zenir João Pascoal (Prefeitos: Louri Ornelas/3ª gestão e Orlando Silva/2ª gestão).
13. Vereadora Cacilda Terezinha Wulff Gurski (Prefeito: Louri Ornelas/3ª gestão).
14. Vereador Valdemar Luiz Cecchetto (Prefeito: Louri Ornelas/3ª gestão).
15. Vereador Luiz Carlos da Silva (Prefeitos: Orlando Silva, 2ª e 3ª gestões.
16. Vereador Jurandir Carneiro (Prefeito: Orlando Silva, 3ª gestão).
17. Vereadora Evanice de Oliveira Andrade – Euva (Orlando Silva, 3ª gestão).
18. Vereador José Euclides Vieira (Prefeito: Luiz C. da Silva, 1ª gestão).
19. Vereador Isman José Carneiro (Prefeitos: Luiz C. da Silva, 1ª e gestões).
20. Vereador Izak Santana (Prefeito: Luiz C. da Silva, 2ª gestão).
21. Vereador Antônio Pereira da Silva (Prefeito: Luiz C. da Silva, 2ª gestão).

Fonte de pesquisa: MENDES, Xiko. Formoso de Minas no final do Século XX -130 Anos, Formoso: Prefeitura Municipal, 2002.

Entre os Vereadores mais Votados em Formoso, destacaram-se na Lista dos Campeões:

1. Vereador Jaudival Justino (126 votos, Eleições 1970).
2. Vereador Abdias Magalhães Ornelas (145 Votos, Eleições 1972).
3. Vereador Gerson Moreira dos Santos (140 Votos, Eleições 1976).
4. Vereador Ramiro Alves de Oliveira (121 Votos, Eleições, 1982).
5. Vereador Mário Santos Filho (125 Votos, Eleições 1988).
6. Vereador Zenir João Pascoal (184 Votos, Eleições 1992).
7. Vereador José de Oliveira (190 Votos, Eleições 1996).
8. Vereador Benedito Rosa Aragão (260 Votos, Eleições 2000).
9. Vereadora Raimunda José Barbosa Muniz (269 Votos, Eleições 2004).
10. José Euclides Vieira (261 Votos, Eleições 2008).

Fonte de pesquisa: MENDES, Xiko. Formoso de Minas no final do Século XX -130 Anos, Formoso: Prefeitura Municipal, 2002.

Outras Curiosidades da Câmara Municipal de Formoso:

• Nelson Dias Andrade (prefeito uma vez, vereador três vezes e vice-prefeito quatro vezes; Presidente da Câmara por três vezes) tem OITO MANDATOS. É o maior detentor de mandatos na História de Formoso. E segundo alguns, também no Noroeste de Minas.
• JOSÉ BATISTA DE ARAÚJO, ex-presidente da Câmara no período 1989-1990, É O VEREADOR COM O MAIOR NÚMERO DE MANDATOS NA CÂMARA MUNICIPAL DE FORMOSO (foi eleito cinco vezes seguidas pelo nosso querido Povo Formosense).
• Três únicas pessoas em Formoso que ocuparam os cargos de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador: Osvaldo Ornelas, Vande Ornelas e Nelson Andrade.
• FLORÍPIO ALVES SANTANA é o vereador que MAIS VEZES SE ELEGEU PRESIDENTE DA CAMARA MUNICIPAL (seis vezes).
• MARIA CARNEIRO ORNELAS (Dona Mariinha de Claudemiro): Primeira Mulher eleita vereadora na eleição de 30 de junho de 1964.
• Raimunda J.B. Muniz: Primeira mulher negra e de origem humilde a eleger-se no município e a mais votada.
• Eleições de 1970: A primeira vez que tivemos dois candidatos a Prefeito; e a primeira vez em que o cargo de prefeito foi disputado por dois vereadores ao mesmo tempo (Zé Botelho e Osvaldino, um imigrante e um nativo). Isso só voltaria a acontecer em 2004.
• 1993 a 2002: Por dez anos a Presidência da Câmara em Formoso foi comandada apenas por vereadores imigrantes.
• Abdias M. Ornelas – o mais popular: além de mais votado em 1973, ainda garantiu a eleição de mais dois vereadores, em 1976 (Gerson) e em 1982 (Vilmar).
• Vereador com sobrenome Carneiro com maior nº de mandatos: Levi Carneiro (3 vezes eleito).
• Vereadores de Formoso antes de sermos município: Minervino G. Ornelas e Benevides B. Carneiro (1924-1930), Ismael Carneiro Magalhães/Osvaldo S. Ornelas (1947-1950) e Florípio A. Santana (s/d).

Fonte de pesquisa: MENDES, Xiko. Formoso de Minas no final do Século XX -130 Anos, Formoso: Prefeitura Municipal, 2002.

XIKO MENDES (POESIA)

Último Discurso de D. Frampaso II

Escritor Xiko Mendes***
Camaradas!
Abram os olhos e reaja enquanto
A Caravana dos Hipócritas
Percorrem nossas ruas...
Distribuindo promessas e mentiras!
São eles os manipuladores de Opinião Pública
Que enganam nosso Povo e destroem
Os sonhos coletivos que germinam
Um Mundo Novo e promissor.
Abram os olhos, Camaradas,
Contra os demagogos de plantão
Que se postam nas praças semeando
Falsas expectativas de mudança!
São eles os vendilhões de falsas utopias
Que nunca se realizam ou, quando realizadas,
Beneficiam sempre a minoria de privilegiados.
Abram os olhos, Camaradas,
E protestem contra esses lacaios,
Aduladores de gente grã-fina,
Com visão elitista, e para quem
O Pobre só é importante na hora de votar e trabalhar.
Sei que sou um sonhador solitário perdido
No meio dessa multidão de Indiferentes
Que nada fazem para transformar esse mundo-cão
Onde poucos vivem usufruindo de todas as benesses
E a maioria morre de fome, subempregada e
Deserdada dos mais elementares Direitos Naturais.
Abram os olhos, Camaradas,
Que ainda sonham com a Revolução em marcha!
Este é o momento de fazermos passeatas
Que resgatem a Esperança dos escombros
E liberte a Humanidade dos grilhões da Insensatez!
Vamos construir um Mundo Humanitário,
Governado por Humanistas abnegados e sábios,
Desprovidos de sentimentos hipócritas e corruptíveis,
E irmanados pelo desejo de fazer da Vida e da Natureza
A base universal para a redenção do Homem Novo!
Marchemos todos e todas em comunhão libertária
E de braços dados; e de mãos dadas; e de punhos fechados,
Segurando a Bandeira da Liberdade e da Ética
Como princípios basilares e transformadores da
Dramática realidade em que vivemos.
Abram os olhos, Camaradas!
Essa é a hora da Grande Mudança!
Não deixem que os Hipócritas saiam novamente
Vitoriosos neste confronto psicodélico
Entre o Poder Econômico e a Dignidade dos Humildes.
Ajudem com seu voto ou com suas atitudes
A libertar essa Cidade do Comando dos Hipócritas!
Viva a Liberdade!
Viva o Homem Novo e livre!
Não há mudança sem Educação!
Não há Educação sem Ética!
E não há Ética sem Transformação!
Lutem pela Mudança de valores e atitudes!
Eu quero um Mundo Novo,
Uma Cidade Nova, dotada de Consciência
Ética, transformadora e libertária!
E você? Vai ficar aí de braços cruzados?

POEMA DE XIKO MENDES

Voz Dissonante

                                                         Escritor Xiko Mendes***



Se a maioria se manifesta a favor,
Há algo que merece contestação.
Unanimidade é coisa de ditador;
Calar-se é censurar a contradição.

Discordar deve ser direito natural
De quem ama e luta por liberdade.
Concordar nem sempre é o normal
Se há argumentos contra a verdade.

Viver é libertar-se do autoritarismo,
Inclusive do velho Culto à Certeza.
Viver é ver triunfar meu ceticismo
Na direção inversa à da correnteza.

Serei sempre uma Voz Dissonante
Contra os demagogos e mentirosos.
Unanimidade é coisa de ignorante
Que vibra com discursos falaciosos.

Se concordar com tudo é ignorância;
Divergir de tudo exige inteligência.
E quem protesta dá luz à esperança;
E quem se omite castra a consciência.

Serei sempre uma Voz Dissonante
Celebrando a dúvida como princípio.
Essa é a única certeza no horizonte:
Ter como virtude meu Livre-arbítrio.

Nem sempre concordo com a maioria,
Pois às vezes é bom ser voto vencido
Porque também é útil na Democracia
Rir-se na cara do vencedor arrependido.

Há momentos em que o nosso silêncio
Não é instrumento de falácia alienante:
É quando se diverge do falso consenso
Para traduzir a nossa Voz Dissonante.

27/01/2012

POESIA DE XIKO MENDES SOBRE EDUCAÇÃO

Um Professor Indignado com os Malditos “Anjos de Azul”

                                                                  Xiko Mendes

Eles vêm à sorrelfa no meio da noite;
São íncubos: sugam neurônios e axônios;
Fazem apologia da ignorância e da cleptocracia;
Detestam gente que tem consciência política.
A Política, para eles, é a arte de matar cérebros.
Uns fingem ser amigos da gente;
Só para nos cooptar.
Quando vêem que alguns de nós
Colocam as convicções acima dos cargos,
Dos subornos e da troca de favores,
Aí se afastam, nos retaliam.
Na pedagogia desses malditos Anjos de Azul
Quem não reza na cartilha chapa branca
É transferido de escola ou até de cidade;
É vítima de perseguição política.
A “Justiça” é a deles!
Não há critérios na tomada de decisões;
O critério é ser “amigo do rei”.
Adversários não têm direito de defesa!
Odeiam Professores que questionam muito,
Que não reproduzem a ideologia burguesa do
Livro Didático Preto ou Azul.
Amam professores alienados,
Que trazem esquemas prontos, decorados;
Que brigam para dar aulas sempre nas mesmas turmas.
Sabem por quê?
A Alienação transforma o Homem
Porque retira dele o direito de ser ele próprio.
Fui condenado por eles a sempre mudar de escola.
Dizem que sou “maluco”, falo demais, questiono demais!
Mas adoro ser louco.
A Loucura é o Suspiro da Razão!
Só os loucos não furam greve;
Só os loucos recusam as bênçãos dos Anjos de Azul!
Só os loucos fazem cumprir a profecia de Paulo Freire:
“A Leitura do Mundo precede a Leitura da Palavra”.

POEMA EM HOMENAGEM AO GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de GUIMARÃES ROSA (AUTORIA DE XIKO MENDES).

Antônio Dó de Volta ao Grande Sertão Veredas
(Parte II: 1956-2006 – De Volta ao Grande Sertão Veredas!)

“O sertão não tem janelas nem portas. O sertão está em toda parte, o sertão é do tamanho do mundo, é o dentro da gente”. In: Rosa, Guimarães; Grande Sertão: Veredas, 33ª impressão, Rio, Nova Fronteira, 1988; págs.1, 60 e 270).
Homenagem ao Cinqüentenário de publicação do romance “Grande Sertão: Veredas”, editado em maio de 1956 pelo escritor João Guimarães Rosa – 1908/1967.

Prof. Xiko Mendes


Venho aqui falar de uma viagem
Pelo sertão” de Guimarães Rosa;
Falar que a minha Mensagem
Lembra um Autor de boa prosa.
Foi pra um mundo povoado de bois
E entre cavaleiros e vaquejadas
Que em mil novecentos cinqüenta e dois
Ele fez sua longa jornada.
Queria ele vivenciar “os sertões”,
Mostrar ao leitor um Outro Mundo;
E foi assim que Guimarães
Fez enxergar o Brasil Profundo!
Um Mundo que o Homem “Civilizado”
Nem imagina bem o que seja,
Pois vive na Metrópole alienado
Da Realidade Sertaneja.
E para mostrar como era o sertão
Desconhecido pelo brasileiro
Fez-se acompanhado de Manuelzão
E um repórter da revista “O Cruzeiro”.

Na travessia de sua comitiva

Foi recolhendo lendas e certezas,
Que inspirariam a sua narrativa
Para o “Grande Sertão: Veredas”.

Esta história povoada de mistério

Tem o sertanejo como personagem
E começa no córrego do Batistério
Todo o relato de JAGUNÇAGEM.
É no Sertão Mineiro do Velho Chico
E na Bahia pelo seu Sudoeste
Onde se desenvolvem os conflitos
Até Goiás no seu lado Leste.
Várzea da Palma é ponto de partida;
Em Buritizeiro há o combate final;
No URUCUIA tem as vindas e idas
Dos jagunços e de Riobaldo.
Neste romance que tanto admiro
Há vários heróis bons e ruins
Tem Ricardão, Hermógenes, Joca Ramiro;
Tem “Judas” e Diadorim.
Tem mulher que vira homem;
Tem homem que vira diabo;
Tem diabo que muda de nome
E tem coronelismo pra todo lado.
Li o romance e faço o anúncio:
É na rua e no meio do redemoinho
Onde um exército de jagunços
Fica famoso como assassino!
Pra você, que é Gente da Cidade,
Que ainda não conhece o meu sertão,
Eu narro essa história que é verdade
E te convido pra ir à Região.
Venha ao “Grande Sertão Veredas

Onde fica um Parque Nacional

Onde se protege a Natureza
E o Patrimônio Cultural.
Aqui o Brasil se orgulha
Do Sertão que ainda sobrevive
Entre o Carinhanha e o URUCUIA
O mundo é mais que livre:
É belo! É verde! É terra maravilhosa!
É lugar onde Guimarães Rosa
Construiu um enredo interativo
Misturando ficção e realidade,
Provando que é verdade
Quase tudo que está no livro!
Se “o sertão é o dentro da Gente”;
Se “o sertão está em toda parte”;

É por que vive dentro da mente

E dela não quero que se afaste;
É sem portas, sem janela: ENTRE!!

Porque o meu Sertão é Obra de Arte!!!

 

Este poema foi extraído do livro ECO-HISTÓRIA LOCAL: FORMOSO EM SALA DE AULA, de XIKO MENDES, Unifam, 2007.

FORMOSO-MG na obra de GUIMARÃES ROSA (Parque Nacional GRANDE SERTÃO VEREDAS).

Formoso na Obra de Guimarães Rosa

                                    XIKO MENDES

        João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo-MG a 27/6/1908 onde viveu até 1918 fixando-se em Belo Horizonte. Sua estréia literária se deu com a publicação de um conto na revista “O Cruzeiro” (Ed. nº: 57, em 7/12/29). Diploma-se em Medicina. Em 1936 é premiado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) pela coletânea de poemas Magma. Torna-se funcionário do Ministério das Relações Exteriores a partir de 1934. Serve o País na Alemanha, na Colômbia e na França. Retorna ao Brasil em 1951. No ano seguinte viaja para o sertão de Minas Gerais.
        Em 1963 é eleito membro da ABL por unanimidade, mas não toma posse por opção (ou superstição?). Morre em 19/11/1967, três dias depois de tornar-se imortal da ABL. São obras de sua autoria: Magma (1936), Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956), Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Histórias (1962), Tutaméia (1967), Estas Histórias (1969) e Ave, Palavra (1970). Corpo de Baile foi reeditado posteriormente em três volumes: “Noites do Sertão”, “No Urubuquaquá, no Pinhé” e “Manuelzão e Miguilim”. Diplomata, médico, contista, romancista..., foi como literato que ele se consagrou, mundialmente, como um dos maiores escritores regionalistas de todos os tempos em Língua Portuguesa.
        A área da bacia hidrográfica do Urucuia, que serviu de cenário para o romance Grande Sertão: Veredas, foi homenageada em 1989 com a criação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Desde meados dos anos 2000 tenta-se formar a territorialização de uma microrregião nesta área. Chamada de Microrregião Urucuia/Grande Sertão, ela inclui os municípios mineiros banhados por esse rio e Cabeceiras-GO. Porém, como Formoso e Cocos são os municípios com maior extensão de terra dentro dessa unidade de conservação, sugerimos aqui a renomeação dela para Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas. Ecorregião é uma unidade biogeográfica que contém um conjunto de comunidades biogeograficamente distintas, mas que compartilham a maioria das espécies, dinâmicas e processos ecológicos.

Localizando Formoso-MG na Ecorregião Grande Sertão Veredas

com base em romance homônimo de Guimarães Rosa


Embora não haja consenso entre os estudiosos, é certo que em seu itinerário pelo Norte-Noroeste de Minas em 1952, acompanhado de um repórter fotográfico da revista “O Cruzeiro”, Guimarães Rosa passou por diferentes lugares, muitos dos quais com toponímia ainda não identificada. Um deles pode ter sido Formoso, tamanha a quantidade de citações que faz sobre o nosso município e a região circundante ao Marco Trijunção. Há, conforme a tradição oral, uma versão segundo a qual ele hospedou-se na Fazenda Sítio do Meio, do Sr. Ramiro Gomes Ornelas, nas proximidades do Quebra-quinaus, único córrego de Formoso citado em seu “Grande Sertão: Veredas”, editado em 1956.  Confira neste trecho inicial do romance:
O senhor vá. Alguma coisa, ainda encontra. Vaqueiros? Ao antes – a um, ao Chapadão do Urucuia – aonde tanto boi berra... Ou no mais longe: vaqueiros do (...) Córrego do Quebra-quinaus: cavalo deles conversa feito cochicho – que se diz – para dar sisado conselho ao cavaleiro, quando não tem mais ninguém perto, capaz de escutar. (...). Dali para cá, o senhor vem, começos do Carinhanha e do Piratinga filho do Urucuia – que os dois, de dois, se dão as costas”(1).
Podemos notar aqui a veracidade dessas informações tomando como referência o fato de que o Córrego Sítio do Meio deságua no Quebra-quinaus e este, por sua vez, desemboca no Piratinga, rio que nasce nas contravertentes da Serra Geral de Goiás ou Santa Maria do Paranã, dentro de Formoso. Não muito distante ou “dali para cá” está a cabeceira do rio Carinhanha, área historicamente ocupada por formosenses desde o século XIX. Guimarães Rosa nos remete aqui à fronteira ocidental do atual Parque Nacional Grande Sertão Veredas, criado por decreto federal em 12 de abril de 1989.
Parece-nos não pairar dúvida, também, que aqui o autor refere-se, ainda que implicitamente, à dita Fazenda Sítio do Meio – ponto hipotético de sua hospedagem – que àquela época era bastante representativa quanto à criação de gado, principal fonte de renda de Formoso até meados da década de 1970. A vaquejada assim como as boiadas eram tradições muito vivas nesta época por estarem na base da colonização pecuária de nosso Município desde suas remotas origens nos fins do século XVIII (1778); (2).
Em sua consagrada epopéia sertaneja, Guimarães Rosa vai ambientando seus personagens em mais de cinco dezenas de localidades do Noroeste-Norte de Minas, e nas fronteiras Leste de Goiás e Sudoeste da Bahia, fazendo de algumas delas “pólos laterais” ou “pólos centrais” de sua extensa narrativa (3).
O “Centro Literário” do enredo de Grande Sertão: Veredas está situado às margens direita e esquerda da Bacia do São Francisco, municípios de Várzea da Palma (ponto de partida) e Buritizeiro (combate final entre os jagunços), respectivamente. A trajetória de Riobaldo Tatarana – o narrador-personagem do romance – inicia no Córrego do Batistério, no Baixo Rio das Velhas. De lá percorre toda a zona leste do Velho Chico até a divisa MG/BA através do rio Verde Grande. Sobe, novamente, o Velho Chico até a barra do Urucuia, circula pelos atuais municípios de São Romão, Pintópolis, São Francisco, Chapada Gaúcha (leia: Serra das Araras) e Januária.  Aqui, Riobaldo  dirige-se para Formoso. Vejamos:
(...). Se passava o Piratinga, que é fundo, se passava: ou no Vau da Mata ou no Vau da Boiada; ou, então, pegando mais por baixo, o São Domingos, no Vau do José Pedro. Se não, subíamos beira desse, até às nascentes, no São Dominguinhos. A ser o importante, que se tinha de estudar, era avançar depressa nas boas passagens nas divisas, quando militar vinha cismado empurrando. É preciso de saber os trechos de se descer para Goiás: em debruçar para Goiás, o chapadão por lá vai terminando, despenha. Tem quebra-cangalhas  e ladeiras terríveis vermelhas. Olhe: muito em além, vi lugares de terra queimada e chão que dá som – um estranho. Mundo esquisito! (...). Por aí, extremando, se chegava até o Jalapão (...)”.(4).
Guimarães Rosa, que na fala introdutória de Riobaldo já tinha mencionado as Subbacias Hidrográficas do Alto Médio Piratinga e do Alto Carinhanha, aqui se prende a dar a localização precisa da terceira e última Subbacia do nosso Município – a do Alto São Domingos, atual divisa entre Formoso e Buritis concluindo seu trabalho de identificação ecossistêmica sobre Formoso.
         A menção a um suposto córrego São Dominguinhos pode ser uma “licença poética” do autor já que ele não existe em nossa hidrografia. É provável que tenha se referido ao Córrego Gameleira, que deságua no ribeirão Santa Maria, (ou “Extrema-de-Santa Maria”, como insinua o autor), afluente do rio Paranã, em Goiás. A hipótese confirma-se ao mencionar as “boas passagens nas divisas” entre os territórios mineiro e goiano que são, orograficamente, separados pela dita Serra Geral, lugar íngreme, de trânsito difícil, e à época devastado por queimadas, prática anti-ecológica comum entre nossos pecuaristas de antanho.
Como o Jalapão – sul do atual Estado de Tocantins – não constava do roteiro de viagem dos “jagunços roseanos”, Riobaldo faz uma viagem de retorno pelo mesmo caminho, (Estrada Formoso-Januária?), atravessa o São Francisco e vai até a margem direita do alto Verde Grande. Novamente, retorna para a zona ocidental do Velho Chico até o vale do rio Paracatu, desce para o Urucuia, outra vez, circula pelos municípios de Arinos, Buritis, etc; e entra no “Liso do Suçuarão” – nome que G. Rosa deve ter inventado para se referir à estrada de cavaleiros e tropeiros conhecida na região como Rabo (ou raso) da Suçuarana, que antes da inauguração de Brasília-DF ligava o Vão do Paranã (Nordeste Goiano) e os Gerais do Sudoeste da Bahia com o Noroeste-Norte de Minas, via Formoso, em direção a Januária, entreposto comercial de abastecimento dessas populações até a década de 1960.
Neste trajeto de quase regresso, Baixo Urucuia-Alto Carinhanha, Riobaldo, mais uma vez, cruza o território de Formoso-MG e segue para a Bahia à procura de seu grande inimigo, Hermógenes (Saranhó Rodrigue Felipe), homem endiabrado, proprietário de terras no Marco Trijunção:
“...seguimos. Dali, antes, a gente tinha passado o Alto Carinhanha – lá é que o Rei-Diabo pinta a cara de preto. Onde chegamos na aproximação do lugar que se cobiçava (...) A terra dele (de Hermógenes), não se tinha noção qual era; mas redito que possuía gados e fazendas, para lá do Alto Carinhanha, (...) nos gerais da Bahia. (...). Olhe: o rio Carinhanha é preto (...). Ê vida! ... Passado o Porto das Onças, tem um fazendol. Ficamos lá umas semanas, se descansou. Carecia. Porque a gente vinha no caminhar a pé, para não acabar os cavalos, mazelados” (5).
A indicação geográfica é claríssima! A região entre as cabeceiras dos rios Itaguari (Cocos-BA), Corrente (Sítio d’Abadia-GO) e do córrego Tabocas (Formoso de Minas) foi escolhida por Guimarães Rosa como a sede de uma das fazendas de Hermógenes – “o Pactário”, maior antagonista de Riobaldo – a quem se atribuía poderes mágico-diabólicos no comando de seus “judas” (jagunços). E é aí nessa fronteira entre Formoso e os municípios vizinhos que Hermógenes torna-se invulnerável.
Além de suposto esconderijo de capangas, este é um dos lugares mais importantes na obra “Grande Sertão: Veredas” porque é aí –  no Marco Trijunção – que Hermógenes, num processo de transmutação zooantropomórfica, se reencarna como “rei-diabo”, como “cramulhão”, “bode preto”. Em Formoso, os moradores mais antigos do Alto Carinhanha ainda conservam essa lenda segundo a qual quem monta em um bode preto, assina um pacto com o “Demo” e fica rico pelo resto da vida. Nesta área também estão situadas as Fazendas Trijunção – transformadas em Reserva Particular de Patrimônio Natural.
Riobaldo, não encontrando Hermógenes, captura a esposa deste como prisioneira e, outra vez, transita pelo Oeste de Formoso, divisa MG/GO, atravessa a Mata do rio São Miguel (Unaí/Buritis) e o rio São Marcos. No Tamanduá-Tão (município de João Pinheiro-MG, sua provável terra natal), Riobaldo mata Ricardão – co-autor do assassinato de Joca Ramiro – e aí caminha-se para o combate final na vila Paredão de Minas, distrito de Buritizeiro, à margem do Rio do Sono, na foz com o rio Paracatu.
Aqui, Diadorim, ex-morador(a) de Lassance, filho(a) de Joca Ramiro e companheiro(a) de Riobaldo – numa mistura de amor/amizade – é morto(a) por Hermógenes, mas antes do último suspiro num duelo de facas – “o diabo na rua no meio do redemoinho” – também mata seu algoz. Riobaldo, o sobrevivente, no enterro de Diadorim descobre que ele(?) era mulher, abandona a jagunçagem e se convalesce na Fazenda Barbaranha, de Josafá Jumiro Ornelas. (Obs.: este personagem, com certeza, foi também inspirado no Coronel Joaquim Gomes Ornelas, 1865-1935, líder político em Sítio d’Abadia, mas nascido em Formoso, e que freqüentava Januária, com carros-de-boi, levando e trazendo mercadorias). A história termina com Riobaldo, casado com Otacília, indo morar numa das fazendas do Coronel Selorico Mendes, pai e padrinho dele.
“Ora vez, que, desse jeito, fomos entortando, entre as duas chapadas, encalço da estrada do rio. E se chegou na fazenda (...) Barbaranha dita, em um lugar redondo e simples, no Pé-da-Pedra. (...). Mas acrescento que o dono, no atual, era um seo Ornelas – Josafá Jumiro Ornelas, por nome todo. (...). Soubessem que esse seo Ornelas era homem bom descendente, posseiro de sesmaria (...), compadre que era do Coronel Rotílio Manduca (...). Seo Ornelas me intimou a sentar em posição na cabeceira (...). Mas seo Ornelas permanecia sisudo (...). Mas, nos tons do velho Ornelas, eu tinha divulgado um extra-vago de susto (...). ...o seo Ornelas relatou a gente diversos casos. (...). O qual se deu da parte da banda de fora da cidade de Januária. (...) seo Ornelas departia pouco em descrições. (...). ...seo Ornelas, senhor de prosa muito renovada. (...) O seo Ornelas honrava os atos. (...). Seo Ornelas externou as despedidas, com o x’totó de foguetes...” (6).
Após esta síntese incompleta do “Grande Sertão: Veredas” não temos dúvida de que Formoso de Minas, apesar de se colocar na obra como uma das fronteiras literárias do enredo, mereceu de Guimarães Rosa um tratamento especial. Se a centralidade da narrativa tem como focos principais os municípios de Buritizeiro, Várzea da Palma, João Pinheiro e Paracatu, por outro lado, há de se acrescentar que a suposta transformação de Hermógenes em Diabo ocorre, exatamente, entre Formoso e Cocos ou, como diz o próprio autor, “para lá do Alto Carinhanha”, hoje dentro dos limites territoriais do atual Parque Nacional Grande Sertão Veredas, que tem a maior parte da área dentro de Formoso e Cocos.
Retomando o início do dito romance, se literariamente Guimarães Rosa centraliza seu enredo na beira do rio São Francisco; geograficamente, parece-nos que houve um deslocamento desse “suposto” centro para o Alto Carinhanha ou Marco Trijunção – encontro do NORDESTE (Cocos-BA), com o CENTRO-OESTE (Sítio d’Abadia-GO) e o SUDESTE (Formoso de Minas) – talvez por julgar que aqui, de fato, o ecossistema é genuinamente constituído de GERAIS, aqui tomado como sinônimo de sertão, desertão, lugar desabitado, não civilizado, embora lá vivessem populações tradicionais isoladas do Brasil litorâneo.
Observe o que diz Guimarães Rosa, logo no primeiro parágrafo, quanto à idéia que ele tinha sobre a localização ecológico-geográfica do Grande Sertão Veredas como ecorregião:
“O senhor tolere: isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. (...). Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. (...). O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho.(...)”. (7).
Mas tem gente que parece ignorar a “geografia roseana”. Em reportagem do Correio Braziliense, (edição de 18/5/03, p.15), um representante de Chapada Gaúcha-MG afirmou:
Aqui é serra alta, onde tudo se encontra. Aqui é a união dos municípios de São Francisco, Arinos, Formoso e Urucuia. Lugar das nascentes dos rios Pardo, Ribeirão {das Areias} e Santa Rita. Todas as águas correm para o São Francisco”.

Em seguida, o CB corrobora a afirmação:
A região é o berço do livro Grande Sertão: Veredas, onde João Guimarães Rosa buscou os personagens do belo romance épico brasileiro. É também o local que sofreu uma violenta devastação e agora passa por um processo de recuperação do verde”.
         Portanto, não há dúvida de que qualquer debate que se faça em torno dos limites de localização da Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas tem que considerar três critérios fundamentais: 1) – o romance de Guimarães Rosa; 2) – Os limites da unidade de conservação dentro desta ecorregião; 3) – o município que detém a maior quantidade de nascentes em grande volume de água nesta área para a Bacia do São Francisco.
Quanto ao primeiro critério, como já foi assinalado neste texto, o centro literário do enredo do romance “Grande Sertão: Veredas” não é o Vale do Urucuia. Neste sentido, nem Formoso, nem Chapada Gaúcha, nem outro município qualquer nesta Ecorregião, pode advogar a idéia de que aí encontra-se o “berço do livro”, pois o Urucuia é, na verdade, um “pólo narrativo” importante na obra e não necessariamente o centro de seu imaginário épico-ecossistêmico. Quanto ao espaço territorial ocupado pelo Parque Nacional Grande Sertão Veredas – que deve ser, sim, a mais importante referência geográfico-ecológica para identificar a ecorregião homônima – Formoso-MG cedeu 70% de seu território para os domínios desta Unidade de Conservação – o que, neste caso, dá a este município a condição privilegiada de ser, não o centro porque não há centro, mas a “zona de centralização político-administrativa da Gestão Ambiental de toda a Ecorregião”.
Não se pode também atribuir à Chapada Gaúcha a condição de ser a “zona de confluência das águas de toda esta Ecorregião”, pois é no município de Formoso, na área banhada pelo ribeirão Mato Grande e pelo Rio Preto, ambos em seu território e ambos afluentes do rio Carinhanha, que está localizada grande parte desta Unidade de Conservação.
Se tomarmos o conceito de manancial como zona de recarga hídrica – referencial importante para a elaboração de políticas de recursos hídricos – veremos que em Formoso estão localizadas não só as cabeceiras do Carinhanha e de seus afluentes já citados como também as nascentes dos rios Piratinga e São Domingos, que são grandes formadores do Urucuia (rio-referência na narrativa do romance em questão). Formoso é, não a fronteira, mas o local que centraliza o foco político e ecológico das questões ambientais que envolvem toda a Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas, por concentrar em seu território municipal boa parte das condições naturais que justificaram a criação desta Unidade de Conservação, em 1989.
O território desta Ecorregião – entendida aqui como unidade biológica e cultural – é formado por todos os municípios limítrofes ou vizinhos à mencionada unidade de conservação e, como tais, estão localizados na zona de amortecimento: Formoso, Chapada Gaúcha, Arinos e Buritis, em Minas Gerais; Sítio d’Abadia e Alvorada do Norte, em Goiás; e Cocos-BA. Todos estes municípios devem, obrigatoriamente, estar conscientes de suas responsabilidades institucionais quanto à preservação da cultura e do meio ambiente circundante à Ecorregião sem que nenhum deles arrogue o pretenso direito de ser a zona de confluência das águas ou de idéias relativas à conservação deste importante ecossistema brasileiro.
Qualquer boa idéia que venha se somar aos esforços a favor da Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas deve ter a compreensão holística de que todos nós somos co-responsáveis pela construção do desenvolvimento sustentável nos municípios situados no território ecorregional. Reportagens como a que reproduzimos e outras como a que também foi publicada pelo Correio Braziliense (edição de 7/7/04, p. 1-8), em forma de suplemento com o título “Grande Sertão: (O Parque)”, dando outra vez a Chapada Gaúcha um status de cidade-centro dessa Ecorregião, só contribuem para dificultar o entendimento político e cultural no processo de institucionalização desse grande projeto em prol da unidade dos povos que vivem no entorno do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. A sua escola tem muito a contribuir com esse debate. E o primeiro passo é fazer com que seus professores e alunos como você conheçam o Parque.


Este texto foi extraído do livro ECO-HISTÓRIA LOCAL: FORMOSO EM SALA DE AULA, de XIKO MENDES, Unifam, 2007.

FORMOSO-MG (RELIGIÕES NO MUNICIPIO).

Religiosidade e Ecumenismo em FORMOSO-MG
 
                                         XIKO MENDES
            O Ecumenismo busca o convívio pacífico entre pessoas de diferentes credos; busca também promover a confraternização universal entre várias religiões visando evitar o fundamentalismo cuja face mais cruel é a intolerância e a discriminação. Ser ecumênico é ajudar a promover o respeito mútuo entre pessoas de convicções religiosas ou filosóficas distintas.
A Religiosidade é a capacidade que cada um tem de manifestar valores morais e espirituais na formação de sua personalidade e nas atitudes cotidianas. Ela se manifesta freqüentemente por meio da opção da pessoa por uma religião, mas há aqueles que têm crença em Deus sem pertencer a nenhuma igreja. Há outros que se declaram ateus.
O Brasil é uma república laica porque não permite a influência religiosa sobre as decisões políticas, mas garante o respeito à liberdade de culto e o direito constitucional de cada um ter ou não religião.  É obrigação sua e nossa, portanto, respeitar todas as religiões! A população de Formoso é majoritariamente seguidora do Cristianismo, que resultou do encontro entre o Catolicismo sertanejo bicentenário e a evangelização protestante vinda com as ondas migratórias entre as décadas de 1970/80.
        
Catolicismo
         A Igreja Católica Apostólica Romana fincou raízes em Formoso logo nos primeiros tempos da nossa História. Nas décadas de 1820/30 o Povoado de Formoso se iniciou a partir da doação de um terreno a Nossa Senhora d’Abadia, que virou a Padroeira do Município. Devido à proximidade com Goiás onde o culto a esta santa era muito comum desde a mineração (romaria do Muquém em Niquelândia, por exemplo), a tese mais provável é que daí veio essa tradição por que Formoso era ponto de passagem da Estrada Real Picada da Bahia (ligando as regiões Centro-Oeste e Nordeste desde 1736). Não se sabe quando surgiu a primeira capela, mas registros de apuração de eleições do século XIX em Formoso e documentos do início do século XX fazem referência à existência dela.
         Como Formoso era território paracatuense, sua capela ficou subordinada à Paróquia daquele município criada em 1755 e depois à Paróquia de Nossa Senhora da Pena de Buritis-MG, criada em 1805. Pertenceu à Diocese de Olinda-PE até 1854. Em seguida, passou para a jurisdição eclesiástica das dioceses mineiras de Diamantina, Uberaba, Montes Claros, Januária e Paracatu. Dentro do território municipal surgiram também a Igreja de São João, Padroeiro da Comunidade de Bela Lorena (1908) e de Santo Antônio, Padroeiro da Vila Goiaminas (1953). Duas datas são marcantes na organização eclesiástica católica em Formoso:
·        1º/3/1929: é criada a Prelazia Nullius de Paracatu sob administração de D. Eliseu van de Weijer, que nomeia o casal Florípio Alves Santana e Dona Ana Pereira de Sousa como responsável pela administração e liturgia na capela de N. S. d’Abadia no Distrito de Formoso (1930-1980). São sucedidos pelas Srªs. Edna e Ester Ornelas. E depois outros se juntaram ao grupo como o imigrante Etelvino Artifon.
·        23/11/1990: é criada a Paróquia Nossa Senhora d’Abadia pelo bispo D. Leonardo de Miranda Pereira. Desde então vários padres já fixaram residência no Município e quando ficou sem pároco a população recebeu visitas de padres de Buritis ou a diligente assistência de leigos de Formoso como Suêrdia Nogueira Vidal.

Protestantismo

Chama-se de evangélicas as igrejas cuja base doutrinária tem origem na Reforma Protestante iniciada entre 1517/1520 por Martinho Lutero na Catedral alemã de Witemberg. Ela rompeu com dogmas católicos.
Na década de 1950 o Distrito de Formoso recebeu os primeiros evangélicos (de que se tem notícia) que permaneceram por pouco tempo apenas dando aulas de catequese para algumas crianças da vila. Com a Emancipação em 1963, fixou residência no Município o evangélico Ricardo Jerônimo Barbosa (Ricardino) e a sua esposa, que se tornaram funcionários dos Poderes do Município. A primeira igreja evangélica de Formoso foi a Assembléia de Deus/Ministério Madureira (vinculada à Regional de Formosa-GO), fundada pelo Pastor Joaquim Pereira de Deus em 1980, embora desde 14/11/1977 já estivesse no Município fazendo seu trabalho missionário.
Ao longo dos anos 1990 intensificou a expansão de igrejas evangélicas no Município de Formoso: Adventista do Sétimo Dia, Assembléia de Deus/Ministério da Missão, Congregação Cristã do Brasil, Igreja de Cristo do Avivamento... Há também desde os anos 1980 a presença da igreja Testemunhas de Jeová. Até 2006 Formoso ainda não fora alvo da presença de igrejas neopentecostais, mas a tendência é multiplicar cada vez mais as denominações religiosas protestantes no Município, pois elas vêm tendo uma expansão constante.

Espiritismo

        
         Embora em toda a história da Humanidade haja registros de cultos com esta concepção, só no século XIX o Espiritismo teve sua base doutrinária sistematizada pelo francês Léon Hipollyte Denizard Rivail, vulgo Alan Kardec, e por outros como Andrew Jackson Davies, Camille Flamarion, Charles Richet e Frederick Myers.
Em Formoso foi fundado no início da década de 1970 o Centro Espírita Kardecista (CEK), que foi progressivamente extinto com o surgimento, em 1981, do Templo Espírita Kairã do Amanhecer. Mais conhecido como Vale do Amanhecer, ele é subordinado à Ordem Espiritualista Cristã (OEC) sediada em Brasília-DF desde 1964 e criada por Neiva Chaves Zelaya (Tia Neiva – como é chamada entre os adeptos desse culto).

Cemitério Nossa Senhora d’Abadia


         Localizado na Rua do Comércio, ele é contemporâneo ao surgimento da própria Cidade de Formoso no século XIX. Em 1910 o historiador paracatuense Olímpio Gonzaga já registrava a existência dele. Na primeira Administração do Prefeito Lourival Andrade Ornelas foi feita uma reforma com ampliação da área. Neste cemitério estão enterradas grandes personalidades do nosso Município como Martinho Antônio Ornelas (1808-1976), seu filho Martinho A. Ornelas Jr. (1839-1910), entre outros. Um cemitério bem conservado com lápides, epitáfios e jazigos bem feitos conta a história de um povo. Infelizmente, nosso cemitério não tem sido alvo do cuidado que os entes queridos de Formoso merecem.
         Além desse cemitério, que fica na parte antiga da Cidade, e do de Goiaminas, na zona rural cada comunidade organizava o seu antes da emancipação política (1963). Depois dela, foram desativados. Um deles é o cemitério de Bela Lorena, onde repousam pessoas que muito contribuíram com a vida política distrital de Formoso. Os cemitérios quando localizados em áreas de risco ambiental (perto de nascentes, em solo úmido ou arenoso, por exemplo) é uma fonte de contaminação do subsolo por meio do necrochorume, que é um líquido fétido resultante da decomposição dos cadáveres.
Mas há soluções. Construir cemitérios em solos com lençol freático profundo e com difícil ou lenta infiltração – o que exige estudos prévios de impacto ambiental na área em que ele será instalado – e conscientizar a população sobre a adoção da cremação, como opção para as pessoas que quiserem por livre e espontânea vontade assim decidir, são algumas dessas soluções com pouco ou nenhum risco à saúde e ao meio ambiente.

ESTE TEXTO foi extraído do livro ECO-HISTÓRIA LOCAL: FORMOSO EM SALA DE AULA, de XIKO MENDES, Unifam, 2007.