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27/01/2012

FORMOSO-MG (Reflexão sobre CULTURA E GLOBALIZAÇÃO).

FORMOSO-MG


                                                                       XIKO MENDES

... Nossos tempos homéricos povoados de homens com chapéu de palha, que pensavam a velocidade do PROGRESSO com a mesma lentidão com que preparavam o fumo para o seu cachimbo, acabaram!
Com a construção de Brasília, esta Realidade foi modificada. A Civilização Industrial ainda não chegou, mas o Desenvolvimento Urbano agromercantil voltado para a exportação de produtos primários modernizou o SERTÃO. As máquinas abriram estradas, destruíram o CERRADO para o cultivo de soja. Elas conquistaram nossas Cidades assim como os colonizadores assaltaram os índios tomando-lhes as terras. Nesta nova guerra em que o SERTANEJO é seduzido pelo Progresso já existem muitos mortos e feridos: a fauna, a flora e os homens! O velho narrador de histórias do nosso FOLCLORE não tem mais para quem contá-las. Todos preferem a novela da TV.
O CAIPIRA está bestificado. É um solitário nômade contaminado pela nostalgia do BAIRRISMO no meio da multidão cosmopolita. Anda pelas ruas, meio desconfiado, perdido entre menores abandonados, bandidos de colarinho branco, garotas de programas, camelôs de plantão, ônibus superlotados, moribundos pedindo socorro nos corredores de hospitais e bóias-frias com pele enrugada. Estes são os “novos personagens do Sertão”, que não virou mar, mas se transformou no marasmo do Capitalismo agrário nas Cidades que cresceram desordenadamente.
O CAIPIRA, porém, quer de volta o Sertão. Cruza a avenida, passa pelo viaduto cheio de favelados, contempla a Natureza. Aí percebe que o Mundo mudou. Sumiram os trilhos do carro-de-boi, os barranquinhos feitos na lateral da estrada pelo casco do cavalo. Sumiram as árvores, apareceram os arranha-céus! É o desencantamento do Sertão, agora urbanizado, cheio de esquinas; labirinto, selva de pedras, desencontro entre civilizações!
É para este desenraizamento cultural do homem do campo, que mudou para a Cidade abandonando seu passado como um louco desmemoriado, que devemos voltar os nossos olhos. Salvar a ORALIDADE DE SEUS DEPOIMENTOS preciosos DEMARCADORES DA LINHA DO TEMPO entre o que fomos e o que ainda somos. Salvá-lo por meio do seu REENCONTRO COM A PRÓPRIA IDENTIDADE norteadora de seus valores primevos sem contudo privar-lhe de se beneficiar da comodidade tecnológica. É este HOMEM, a quem a Globalização quer enterrar para sempre, que o historiador, a Sociedade Civil, as Autoridades Competentes, têm que reunir forças para proteger a sua HISTÓRIA, o seu folclore, enfim, o seu mundo encantadoramente diferente do mundo dos outros.

                                                            In: Mendes, Xiko. Formoso de Minas no final do Século XX – 130 Anos!, Edição da Prefeitura  Municipal, 2002. p.640-641).

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