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27/01/2012

FORMOSO-MG (Formação histórica e cultural de seu povo)

Formação do Povo Formosense

                                                               XIKO MENDES
 
A presença do Homem na América remonta há no mínimo doze mil anos. Embora haja várias teorias sobre a chegada do homem ao nosso continente, é consenso que ele veio da Ásia. Aqui foi povoando aos poucos as terras americanas. Quando os europeus aqui chegaram, encontraram as chamadas “civilizações pré-colombianas”: Maias, Incas e Astecas. Machu Pichu, no Peru, e Tenochtitlán (atual Cidade do México) são exemplos de cidades indígenas descobertas pela Arqueologia. Elas revelam que muitos dos ameríndios eram tão desenvolvidos quanto os europeus.
No Brasil havia centenas de tribos com diferentes culturas. Posteriormente, a maioria foi agrupada em troncos etno-lingüísticos: Tupi-Guarani, Macro-Jê/Tapuia, Caraíbas e Nuaruaque. No Cerrado predominava a população tapuia. Os povos indígenas viviam em constante harmonia com o meio ambiente. A maioria não provocava danos ambientais de grande impacto porque explorava os recursos naturais apenas para a própria subsistência.

Ancestralidades Afro-ameríndias

No Noroeste de Minas o território era habitado pelos Tupinaês, Temiminós e Amoipiras. No Marco Trijunção, especificamente, a História de Formoso registra a presença dos CAIAPÓS vindos do Maranhão no século XVII. Eles se fixaram na região entre os rios Carinhanha e Urucuia. Duas de suas aldeias, a de Tapiraçaba – que deu origem a Januária – e a de Guaíbas – onde foi fundada São Romão – se tornaram famosas no Norte de Minas. Antes de os portugueses chegarem a Formoso, a terra do município provavelmente pertenceu aos Caiapós.
Há cerca de dois milhões de anos o Homem surgia no planeta Terra. E segundo a Paleontologia – ciência que estuda animais pré-históricos fossilizados – o Homem apareceu primeiro na África. Vários milênios depois, Portugal usaria a mão-de-obra africana no Brasil. Da África vieram principalmente os Bantus, que desembarcavam nos portos do Recife-PE e do Rio de Janeiro, e os SUDANESES que, da Bahia, eram vendidos como ESCRAVOS para lugares como Formoso, já que o nosso Município era ponto de passagem da estrada real Picada da Bahia, que ligava o litoral baiano às minas de ouro do Centro-oeste.

Etnias Formadoras do Nosso Município

O processo de colonização portuguesa escravizando o indígena e depois o negro africano fez com que desse contato violento nascesse um povo mestiço composto de Mulatos (branco com negro), Cafuzos (negro com indígena) e Caboclos (indígena com branco) – mestiçagem que criou o falso mito da democracia racial – aquele que diz que não há racismo no Brasil.
Em Formoso a presença das três etnias é registrada em relatos como o do cientista inglês George Gardner que encontrou indígenas em nosso município quando aqui passou em 1840. Um documento de 1837 reproduzido pelo historiador de Buritis, Oscar Durães, dá conta de que 40% da população formosense era de escravos. O inventário de Martinho A. Ornelas, “o Antigo”, em 1879, também cita nomes de escravos na partilha dos bens.
Atualmente não existe a presença do caboclo em Formoso. A população formosense é quase toda de mulatos (ou morenos, como se diz hoje) e é proveniente de três correntes migratórias: do Nordeste vieram os baianos, do Centro-oeste vieram os goianos, além dos mineiros que vieram inclusive de Paracutu e do Norte do Estado. A partir de 1979/80 vieram da Região Sul os gaúchos.

Brevíssima Genealogia do Povoamento

A Genealogia cuida de estudar a origem das famílias e suas linhas de parentesco ao longo do tempo. Por meio dela podemos entender melhor como são construídas pequenas populações como as comunidades rurais do nosso Município ou cidades como Formoso.
As famílias-tronco que deram origem ao Povo de Formoso chegaram ao Município entre o final do século XVIII e o início do século XX. Entre outras podemos citar, cronologicamente: Tavares, Ornelas, Mendes, Almeida, Rodrigues, Pereira, Rocha/Gomes, Pires/Martins, Carneiro, Magalhães, Andrade, Moreira e Piabas. A família Ornelas por sua numerosa quantidade de descendentes é, sem dúvida, a que bem merece o título de proto-genitora de Formoso porque é a principal co-responsável pelo povoamento do Município.

O Tamanho da Nossa População

A primeira vez que o Povo Formosense foi contado ocorreu em 1837. Foi identificado o total de 2.320 habitantes dos quais 684 eram negros escravos. Como o censo paroquial não usava o critério espacial urbano/rural, é provável que a maioria desse total morasse nas fazendas. Em 1910 é feita uma estimativa que havia em Formoso 4.000 habitantes. Quando Formoso foi emancipado, o Censo de 1960 trazia a soma de 3.843 moradores em todo o território distrital.
De 1837 até o Censo de 1970, o crescimento populacional de Formoso foi lento e variou de forma equilibrada entre dois mil e quatro mil habitantes. Em 1975, com o início da colonização do Cerrado, as lavouras mecanizadas na região do Médio Piratinga (Fazenda Caatinguinha) atraem para o nosso Município a primeira grande onda migratória. É a Colônia Patureba formada por pessoas vindas tanto do Alto Paranaíba quanto do próprio Noroeste de Minas.
Na década de 1980 Formoso recebe a segunda onda de imigrantes. É a Colônia Gaúcha que chega ao município com o mesmo propósito de explorar as chapadas para a agricultura. No Censo de 1980 o Povo Formosense já era composto de 5.456 pessoas. E pela primeira vez houve um aumento significativo da população urbana. Aqui começa de forma progressiva o êxodo rural. A desativação das lavouras faz a Colônia Patureba se dissolver, levando seus membros a morar no Distrito-sede do Município. No Censo de 2000, que registrou a existência de 6.517 habitantes, revelou pela primeira vez a tendência de, futuramente, a população urbana vir a ser muito maior que a rural porque a diferença, que sempre foi significativa, passou a ser equilibrada. Este censo identificou 3.413 pessoas morando em zona urbana (distrito-sede e Vila Goiaminas somados) contra 3.104 residindo na zona rural.
Mas o Município ainda não é densamente povoado. A densidade demográfica em 1920 era de 0,62 habitantes por Km2. Em 1970 passou a ser de 1 hab./Km2. A maior densidade ocorreu no Censo de 1991: 1,94 hab./Km2, que foi reduzida em 2000 para 1,70 hab./Km2. Só que o problema não é a densidade baixa em relação ao território do Município como um todo. A preocupação tanto do Povo quanto das autoridades municipais deve centrar-se na densidade demográfica da Cidade que cada vez mais concentra moradores sem nenhuma condição de sobrevivência. Por isso que é necessário planejar o crescimento urbano do Município com políticas ambientais e urbanísticas, de modo que a relação entre crescimento da população local e exploração dos recursos naturais do Município não prejudique o Meio Ambiente em Formoso.

Herança Cultural das Etnias

Negros, indígenas e brancos produziram em Formoso, como em todo o Brasil, a síntese cultural que criou os diferentes regionalismos no país e criou a nossa IDENTIDADE LOCAL. A cultura indígena está presente em nosso município em nomes como Piratinga, Gentio, Tabocas, Caraíbas, Carinhanha, Quebra-quinaus, Taquaril...; na forma circular de construir povoados como em Goiaminas, em utensílios como o tapiti, no artesanato e na economia local (roças, coivaras...).
A cultura negra deixou traços na formação cultural do Município. Um exemplo é a dança do Tatu-sobe-Pau entre os geralistas, que são afro-descendentes. A dança é originalíssima de Formoso. Na geografia existem os imensos “valos”, como o do Barreiro, construídos pela mão-de-obra escrava e que serviram de cerca nas fazendas. Há traços na culinária, no vocabulário, no sincretismo religioso, etc. Os brancos europeus, igualmente, também deixaram diversas contribuições à cultura do Povo Formosense: religião (Catolicismo), Língua Portuguesa, formas de organização política, etc.

Refletindo sobre Problemas do Nosso Tempo

O progresso tem seu preço. Com o aumento do tamanho da Cidade crescem também os DRAMAS SOCIAIS: desemprego, necessidade de mais serviços públicos funcionando com eficiência (hospitais, escolas, policiamento...), aumento da criminalidade (roubos, drogas...), prostituição, necessidade de criar meios para ampararem idosos e portadores de deficiência desassistidos pelo Poder Público Municipal, necessidade de cuidados com os menores abandonados com programas de apoio à criança e ao adolescente, necessidade de programas de apoio à mulher (controle de natalidade, preservativos, planejamento familiar, creches, inserção dela no mercado de trabalho local...), redução do analfabetismo para qualificar a mão-de-obra local, entre outros.
Que tal a gente, na sua escola, repensar o desenvolvimento do Município de Formoso debatendo esses desafios decorrentes do crescimento urbano sem planejamento? Aceitam o desafio?

Este texto foi extraído do livro ECO-HISTÓRIA LOCA: FORMOSO EM SALA DE AULA, do escritor XIKO MENDES, Unifam, 2007.


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