Carta Aberta ao Povo de Formoso-MG para ser
lida em meu Centenário de Nascimento em janeiro de 2068
Bsb, 6 de abril de 2013.
Inventei um ditado que repasso aos meus filhos e agora
aos meus conterrâneos: “Quando o capeta fecha uma porta, Deus abre
todas as janelas, e enquanto o Mal é carregado pela Tempestade, bons ventos nos
devolvem a bonança”. É isso o que está acontecendo comigo nesses
últimos meses. Confesso-lhes meu sofrimento e mágoas que, acredito, serão
passageiras.
Confesso-lhes do fundo do coração quanto amo Formoso e
quanto é doído tudo isso que vos escrevo nesta missiva redigida com a dor de
amar tanto um lugar para o qual dediquei todos os dias e noites, mas que nunca,
até hoje, retribuiu com justo reconhecimento público o que fiz por ele. Talvez
porque os contemporâneos julgam o que fiz como sendo muito pouco.
Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo. Mas
aconteceu. E sobre isso passo a lhes dizer palavras de dor que torturam meus
sentimentos patrióticos. Mas que recolhidas ao silêncio inquieto do mais
profundo âmago de minha existência agonizante, um dia hão de eternizar-se como
verdade ferina na consciência culpada daqueles para os quais essa carta é
direcionada.
Em período recente fui procurado por algumas pessoas de
Formoso-MG para compor alianças políticas e ajudá-las a realizar o sonho delas.
Essas pessoas já tinham tentado outras vezes realizar seus sonhos. E haviam
fracassado.
Eu, na minha santa ingenuidade de querer ajudar,
passei vários meses ajudando-as, carregando o piano, trabalhando de
graça para que essas pessoas chegassem ao pódio. Essas pessoas, antes de serem
vitoriosas, me abraçaram, iam à minha casa, abraçavam meus filhos, dizia
admirar minha esposa, me recebiam com sorrisos largos, porém, traiçoeiros (só
agora percebi).
Essas pessoas simplesmente me queriam apenas para me
usar nos seus propósitos maquiavélicos. Fui ingênuo e besta – hoje admito que
fui bobo da corte. Em 2012 essas pessoas proferiam elogios falsos a mim,
dizendo-se admiradoras de minha erudição. Mas agora vejo que isso era apenas
para amaciar meu ego e tirar proveito dos meus conhecimentos. Caí na cilada.
Fui um babaca. Fui escada para que essas pessoas pisassem o pé em minhas costas
e saíssem vitoriosas.
Essas pessoas pediram que eu escrevesse documentos,
redigisse atas, digitasse dezenas e dezenas de formulários (...), fizesse parte de comissão para transição de governo,
ajudasse a redigir relatórios, etc. Fiz tudo isso e não cobrei nada,
absolutamente nada. E nem muito obrigado ou um abraço ganhei. O que recebo hoje em troca é fuxico
contra mim, é falatório em becos de ruas e esquinas acusando-me de mercenário
quando elas, sim, é que são verdadeiramente mercenárias porque usam as
pessoas para alcançar seus objetivos maquiavélicos, destroem os sonhos das
pessoas, pisam no pescoço da mãe para se chegar ao poder e, depois, nos
ignoram, nos desprezam, nos deixam magoados.
Depois que essas pessoas saíram vitoriosas com meu
apoio, elas continuaram me iludindo com falsas expectativas. E sempre que eu as
procurava me enrolavam dizendo que mais adiante eu seria recompensado. Quero dizer a essas pessoas que não
quero nem nunca exigi recompensas financeiras ou pessoais. Eu não
preciso disso. Sou Servidor Público e tenho salário suficiente para viver,
criar minha família e ser feliz.
Queria que essas pessoas as quais dei apoio e para as
quais dediquei tanto tempo precioso de minha vida, me ajudassem a realizar projetos
comunitários em benefício do Povo Formosense. Logo no início de 2013, transferi
a Sede da nossa ONG UNIFAM, de Brasília para Formoso-MG. E gastei mais de dois
mil reais com essa transferência. E agora estamos gastando o mesmo valor para
retornar nossa ONG UNIFAM para Brasília.
Mudamos o Estatuto da ONG UNIFAM em março de 2013. E inserimos
novos objetivos. Ei-los: 1) – Projeto
RIDE TRIJJUNÇÃO (Região Integrada de Desenvolvimento dos Municípios da
Trijunção entre Bahia, Goiás e Minas) com a finalidade de reintegrar os
municípios que fica entre esses três estados, promovendo, pois, o
desenvolvimento integrado sustentável deles; 2) – Projeto do jornal Repórter Marco Trijunção,
buscando integrar cidades baianas, goianas e mineiras (Baiangoneiras) por meio de
sua cultura e potencialidades através do jornalismo; 3) – Revista BAGOMINAS
(com a mesma finalidade); 4 – Projeto
do Ecomuseu Comunitário Marco Trijunção/Grande Sertão Veredas; 5) – Rádio Comunitária Trijunção FM
(também com a finalidade de estreitar o relacionamento político-institucional e
interpessoal entre autoridades e populações das cidades aqui citadas; 6) –
Promover cursos e fazer convênios com
universidades para melhor o desenvolvimento intelectual do povo na
região.
Tudo isso consta do Novo Estatuto de nossa ONG UNIFAM.
Mas as pessoas às quais aqui me refiro, simplesmente viraram as costas se
tornando indiferentes a mim e contra esses projetos. Não quiseram mover nenhum
esforço para que esses projetos acontecessem. Motivo: medo de eu crescer
politicamente. Digo a essas pessoas que não me interessa disputar carguinho
eletivo em Formoso por causa de salário. Saí candidato em 2012 simplesmente
porque acho que mandato não é justificado pelo salário, mas ele deve ser usado
para QUE a pessoa, legitimada pelo povo, tenha mais força na realização de
ideais coletivos.
No início de 2013, pedi, por exemplo, apoio para
realizar em Formoso o 1º Encontro de
Prefeitos e Vereadores da Fronteira entre Bahia, Goiás e Minas, com o
fim de discutir e gerar documentos para a criação do Projeto RIDE TRIJUNÇÃO, e o apoio não veio. Pedi para
aprovar na Câmara de Formoso o reconhecimento da UNIFAM como órgão de utilidade pública municipal
e também o apoio não veio. Pedi para que o Conselho Municipal de Assistência
Social, em Formoso, reconhecesse a UNIFAM como Entidade Beneficente neste município e, assim, a gente pudesse
regularizar a ONG junto aos governos federal e estadual, e esse apoio também
não veio. Pedi que se fizesse parceria cultural com nosso jornal Repórter Marco Trijunção para que divulgássemos as
belezas e potencialidades de Formoso, e também o apoio não veio.
Assim fui
percebendo que as pessoas que contribuí para serem vitoriosas, não estavam
apenas contra mim. Elas são contra meus projetos e contra o desenvolvimento de
Formoso e da Região. É gente com cabeça pequena, que se esconde atrás
da máscara ($$$$$) do dinheiro, que o povo escolhe para governar, mas não estão
preparadas para ter bom senso, saber
separar picuinhas e intrigas palacianas, dos grandes ideais que movem a
transformação do Mundo e faz a diferença na evolução da Humanidade.
Essas
pessoas pensam pequeno, só querem o poder pelo poder. E quando percebe que no
grupo político delas há pessoas que pensam, que escrevem, que têm ideias
próprias e senso crítico, que fazem propostas interessantes, que desejam
colocar em prática ideias benéficas ao povo, aí essa gente logo se distancia,
fica prisioneira da inveja e começa a nos ignorar, a nos criticar, a colocar o
povo contra a gente.
Essas pessoas que eu ajudei a chegar ao pódio, agora
insinuam ao povo ilações improcedentes; e alguns fofoqueiros se postam a
espalhar pelas ruas o boato de que eu rompi com elas porque sou mercenário, sou
interesseiro. Eu desafio essa gente a fazer um debate em público comigo na Rádio Formoso FM e AO VIVO sobre os
reais motivos de minha desilusão com Formoso e porque decidi abrir mão de me
envolver com esse município.
Graças a Deus não preciso de emprego público em
Formoso para sobreviver bajulando gente com um “Q.I” muito inferior ao meu. Não
preciso me rebaixar à condição de vassalo serviçal para viver na sombra de
gente que se apega ao Poder para viver dependente de “sinecurinhas” com salário
abaixo do meu. Sou um homem honrado, sou coerente e tenho convicções éticas e
democráticas muito firmes. E ainda sonho. Sonho com um mundo diferente deste
que é vivenciado pelo Povo de Formoso.
O motivo
de me criticarem é este: enquanto
o Povo de Formoso não tomar vergonha na cara, deixar de vender voto (como
aconteceu em 2012 gerando a cassação de candidato), deixar de se iludir com
tapinhas nas costas, deixar de acreditar em candidatos medíocres, e votar naqueles que são ética e
intelectualmente mais preparados, a gente vai continuar sendo esse
Formoso prisioneiro da pequenez áulica, que sofre de “vista curta” (Miopia Política), sofre de câncer em
metástase (ignorância política) e é
um paciente que reluta em tomar remédio (ter
consciência política).
Dizer aqui essas verdades doe no coração desses
políticos. As pessoas de Formoso têm medo de dizer isso que você acaba de ler.
E eu não tenho. Esse é o motivo da maioria dos políticos em Formoso me
detestar, dizer que eu sou “Chico Doido”: eu não escondo a verdade; eu digo que
enquanto Formoso for governado por alguns tipos de político como muitos do que
nós conhecemos, essa cidade, que já tem mais de duzentos anos, vai continuar
sendo esse “curralzinho eleitoral controlado por uma elitizinha que precisa ler
pelo menos uma cartilhazinha da primeira série de antigamente” para
melhorar sua visão sobre o real significado da frase “Gestão Pública
Municipal”.
Foi difícil para eu tomar a decisão de não mais
envolver com Formoso. Desde criança Formoso virou inquilino permanente em meu
coração. E eu virei hóspede com lugar fixo no Paraíso onde se sonha um Formoso
diferente. Mas agora percebi, melancolicamente e nostalgicamente, que esse
Formoso paradisíaco que tanto sonhei e cantei em minhas poesias, não existe nem
eu, solitariamente, vou conseguir realizá-lo ou transformá-lo. Por isso,
desisti. Assumo que me acovardei, mas acho que já dei a minha contribuição como
integrante da Humanidade. Os livros que publiquei documentando mais de dois
séculos de história em Formoso, servem de contribuição para que, não as
gerações atuais, mas a Posteridade possa compreender que fiz minha parte como
cidadão formosense.
O Povo de Formoso gosta de votar nos políticos que os
governam. E o povo tem esse direito. Afinal de contas, não há mesmo muita opção
de escolha. E é essa elite política que não escreve nem lê sequer seu signo no
horóscopo, que dá carona na beira da estrada, paga receita de remédio, contas
de água e luz para os pobres, a mesma elite que é responsável pelo Formoso que
dramaticamente a gente está vendo: uma cidade ofegante, moribunda, em estado
permanente de CALADAMIDA PÚBLICA. E assim o fazem porque detestam gente como
eu, que sonhava em trazer projetos comunitários para libertar esse povo da
“troca de favores por voto”.
Não serei eu o único a se opor a tudo isso nem sou
mais honesto ou mais ético do que ninguém. Mas entendo que a maioria desses
políticos apenas finge ser diferente uns dos outros. Só que é tudo mentira. São
todos iguais. É isso que me desilude e me faz desistir. Dizem alguns deles ser
governo, e outros, Oposição. Mas, e se não for um governante “homem” e, sim,
“mulher” ou até homossexual, as coisas vão mudar? Vai ser diferente? Ah! Isso também
é balela. A cabeça deles é a mesma. A mente é a mesma. Nenhum grupo político em
Formoso quer transformar essa cidade. É o Poder pelo Poder! Quem tem mais
dinheiro ganha a eleição. Esse é o slogan.
Ter Currículo Acadêmico, mostrar Folha de Serviços Prestados,
dizer que ganhou o Nobel de Literatura Internacional, que escreveu mais de
vinte livros... Isso conta pouco ou nada. Reina o Imediatismo. O Paraíso começa
e acaba em três meses de campanha. Faz parte desse cardápio como ingredientes
eleitorais: carona na estrada, bujão de gás, contas de água e luz, receita de
remédio, encaminhamento de aposentadoria, doação de materiais de construção,
transporte de doentes para Brasília em veículos oficiais, etc.
Depois, reina o caos, a desilusão, a desesperança.
Quatro anos depois, nova eleição. Mais três meses de “Paraíso Apocalíptico”. E
assim Formoso segue, grotesca e ironicamente, reproduzindo esse Ciclo Mítico do
Eterno Retorno do Caos, fazendo ritual de autoavacalhação de si mesmo por meio
do voto, sem ter critério rígido na escolha de seus representantes. Enquanto
isso, o Futuro se agoniza, o povo padece, e nada é feito.
Quase todos fazem uso do continuísmo e do mandonismo,
com as mesmas e velhas práticas clientelistas e “fisiológicas” para se chegar
ao Poder a qualquer custo ($$$$$$$$$$).
Não há convicção, há interesses pessoais. Como diria o sociólogo Max
Weber, a Ética da Convicção é humilhada e sobreposta à Ética da Necessidade.
Eles querem e conseguem trazer o Povo Formosense nas rédeas do cabresto. E quando
alguém – e esse é meu caso – tenta pensar projetos comunitários interessantes,
eles – a maioria desses políticos – vêm com a “tesoura de Coronel” e cortam as pétalas para que as flores não
germinem novas sementes. Quem é diferente deles é doido, e deve ser excluído do
grupo político deles.
Eu decretei uma sentença em meu coração: saio triste
de Formoso e voltarei sempre a ele somente para passear. Formoso não sairá de
mim enquanto eu viver; nem eu sairei dele, simbolicamente. Mas me acho hoje
condenado ao OSTRACISMO, aquele instrumento político de punição inventado pela
Democracia grega de Atenas por meio do qual os políticos da Grécia votavam a
expulsão dos adversários que lhes incomodavam. Eu, que fui candidato a vereador
em 2012 em Formoso, obtendo 110 votos (aos quais agradeço eternamente), tive,
por meio das urnas, a votação do meu OSTRACISMO.
Mas – se o
Capeta fecha uma porta, Deus abre todas as janelas – eu tenho a dizer a mim
mesmo que estou muito feliz. Brasília é cidade que me acolheu em 1989 e onde
prosperei, onde construí família e me estabilizei profissionalmente. Pois é
aqui na Capital do Brasil onde sou homenageado, onde já fui eleito para direção
de escola pela comunidade de Planaltina, onde sou um escritor reconhecido
publicamente em eventos institucionais, onde sempre tive apoio... é aqui onde
devo plantar sonhos como parteiro de utopias. Esse é o lugar para o qual agora
voltarei meus olhos, dedicarei minha mente para compreendê-lo, decifrá-lo,
amá-lo intensamente... E assim recompensar tudo o que Brasília já me deu.
É em Brasília que fecundarei agora minhas utopias,
partilharei com outros sonhadores meus ideais comunitários ou
cósmico-planetários. E farei em toda a minha existência um Juramento de Amor
Eterno à Capital do Brasil, lugar onde a Esperança, mesmo para os miseráveis
imortalizados por Victor Hugo, ainda reluz no fim do túnel como o último facho
de luz na penumbra do Apocalipse dissipando fagulhas solitárias na curva do
universo em chamas.
Brasília é encruzilhada de destinos indefinidos que se
definem como esfinge na véspera do suicídio no cadafalso do Olimpo. Brasília é
meu delírio, é minha metáfora, é sonho que se fecunda. Formoso é minha alegoria
melancólica tragada pela nostalgia bairrista e presa na garganta do “Logos” em
silêncio enquanto os Bajuladores de Plantão celebram, triunfantes, o Banzo de
suas asneiras políticas pela desistência ou enterro simbólico dos sonhadores.
Sonhar, em Formoso, também é pecado. E ninguém vive sem sonho.
Em Formoso fui condenado por sonhar. Mas em Brasília
sempre fui bem acolhido porque aqui há uma sinestesia de sonhares incessantes à
espera de um mundo que se levanta do solo como centelha queimando a
mediocridade “maquiavélica” desses que hoje comemoram minha desistência em
lutar por um Formoso que se quer diferente. Pobre povo! Pobre povo que observa,
passivamente, o espetáculo de pirotecnia demagógica e monetária encenado por
uma elite plutocrática que bem representa os dois séculos dessa história cuja
odisseia pitoresca eternizei em meus livros e para a qual dediquei toda a minha
vida até hoje.
Abraços a quem gosta de mim e sentirá minha falta
lutando por Formoso, pois “Quando o capeta fecha uma porta, Deus abre
todas as janelas, e enquanto o Mal é carregado pela Tempestade, bons ventos nos
devolvem a bonança”. Sou um homem feliz e ainda vivo o sonho de ver o
mundo diferente, ainda que não seja em Formoso. Atenciosamente, XIKO MENDES, Educador e Escritor,
nascido em Formoso-MG.