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27/01/2012

FORMOSO-MG (Economia)

Estrutura Econômico-Social de FORMOSO-MG

                                                    XIKO MENDES

             A Economia é a ciência que procura estudar as variadas formas de produção, circulação e distribuição de riquezas numa sociedade historicamente determinada.  Um de seus objetivos é propor soluções para o homem superar situações de escassez iminente planejando a prosperidade coletiva. Esta ciência divide as atividades econômicas por setores: Primário (agricultura, pecuária e extrativismo), Secundário (indústrias) e Terciário (comércio e serviços).
             A Economia Municipal em Formoso sempre foi essencialmente primária, cíclica e, lentamente, vem desenvolvendo o Setor Terciário. Ela é cíclica porque é dependente de um Modelo Econômico Monocultor de Desenvolvimento que não gera riquezas para o mercado local (o Município), exporta a maior parte do que é produzido e não contribui para a geração de renda e emprego permanentes para os habitantes de Formoso, além de provocar impactos ambientais ainda não controlados. O progresso municipal é prisioneiro de uma sucessão de ciclos cuja prosperidade tem data de vencimento conforme veremos:

Ciclo das Tropas e Boiadas ou do Carro de Boi

             Iniciado com a colonização do território formosense pelos primeiros senhores de terras no século XVIII, ele foi o mais longo de nossa História só encerrando-se dois séculos depois na década de 1970. Nele foram predominantes duas unidades de produção: o Latifúndio Bovinocultor e o Brejo Esgotado.
             O Latifúndio (grande fazenda) era destinado à criação de animais em campo aberto, sobretudo gado curraleiro ou pé duro. Esse gado era vendido para lugares distantes como Paracatu, Patos de Minas e Coração de Jesus ou até em Barretos-SP. As Boiadas de Formoso eram famosas, pois empregavam a maior parte da mão-de-obra disponível, seduzia peões e instigava a imaginação do sertanejo em longas viagens que duravam semanas ou meses.
             Como os fazendeiros estavam todo o tempo priorizando a pecuária, em Formoso se desenvolveu uma economia de subsistência cuja base de produção era o Brejo Esgotado. Também conhecido como Roça, era um tipo de agricultura rudimentar praticada em áreas úmidas. A atividade envolvia várias etapas: roçada, derrubada e retirada da mata, encoivarmento, cercamento, esgotamento, planta, limpa, vigia, colheita, soca e palhada. Com o tempo, o solo ia se empobrecendo ocasionando a redução de nutrientes ou a laterização, inclusive devido às queimadas. Adotava-se o alqueive, ou seja, a área era temporariamente abandonada para a reposição da vegetação surgindo as capoeiras.
             As roças eram cultivadas por agregados, gente que morava de favor dentro das fazendas. Trabalhavam no sistema de “meia”, que é semelhante à talha dos tempos medievais, ou seja, de tudo o que era produzido metade ficava com o pequeno produtor e a outra com o pecuarista dono da terra. Além da vaqueirice e da roça que eram as bases do mercado de trabalho local, tinha também pessoas que se dedicavam ao extrativismo (vegetal e animal). Não há registro sobre a existência de extração mineral em Formoso nesta época não obstante existir um pequeno garimpo de diamantes no vale do Rio Claro (antes fronteira do nosso município com Arinos) sem muito impacto na economia local.
             Na Estrutura Social do Município até a Abolição da Escravatura (1888) foram predominantes dois grupos sociais: os fazendeiros (Oligarquia Rural) e os escravos (Campesinato). Mesmo após a abolição, Formoso ainda manteve relações de trabalho escravistas. A primeira metade do século XX foi o momento de uma grande transição onde ex-escravos, lentamente, se transformaram em mão-de-obra assalariada.
             Com a construção e inauguração de Brasília (1960) como nova capital do País, a sua proximidade forçou a modernização do sertão, revalorizou as terras e atraiu imigrantes que se fixaram em municípios como Formoso. Este e outros fatores provocaram a decadência do Ciclo do Carro-de-Boi. Com ele deixou de existir este mundo povoado de vaqueiros, cavaleiros, tropeiros, carreiros, boiadeiros..., gente que tanto encantou Guimarães Rosa e o inspirou para escrever seu romance sobre jagunços e coronéis, o livro Grande Sertão: Veredas, em 1956.

Ciclo Patureba (1971-1979) – Cultivando Arroz, Feijão e Milho

             A primeira onda migratória para Formoso se iniciou com a formação da Colônia Patureba e ela marcou a consolidação do processo de modernização da Economia Municipal que tem como pioneiro o fazendeiro formosense Minervino Andrade Ornelas. Esse fazendeiro foi o primeiro do Município a substituir as roças por lavouras mecanizadas na Subbacia do Piratinga.
             Em 1975 os fazendeiros Orlando José da Silva e José Vitório de Lima começam instalar na Fazenda Caatinguinha a Colônia Patureba – grande comunidade formada por famílias de trabalhadores vindos do Noroeste de Minas e do Alto Paranaíba (região de Patos de Minas, daí o nome patureba). Essas famílias se transformam em mão-de-obra assalariada e se somam aos trabalhadores formosenses. A prosperidade patureba é financiada com empréstimos viabilizados pelo Plano Integrado de Desenvolvimento Regional do Noroeste de Minas (Planoroeste).
             Com esse Ciclo, as roças definitivamente deixam de ser uma unidade de produção no Município. As relações de trabalho (patrão/empregado) também se modernizam. As pessoas passam a ganhar salário ao contrário de antes quando vaqueiros recebiam bezerros por seu trabalho e agricultores ficavam com metade do que eles produziam. A propriedade rural é revalorizada. Surge o Bóia-Fria – trabalhador rural que mora na Cidade e presta serviços no campo.

Ciclo Gaúcho (1980-1988) – Cultivando Arroz e Soja

             O Ciclo Patureba terminou com a substituição de lavouras mecanizadas por pastagens causando desemprego e êxodo rural. Chegam ao Município com a segunda onda migratória os agricultores sulistas. Compram terras baratas e expandem as lavouras nos chapadões. José Tudy de Godoy Rosas e Francisco José Beust (Chicão Paulista) foram pioneiros nessa empreitada. Vieram mais famílias: Romeiro Guimarães, Pascoal, Cecchetto, Jeziorny, Müller, Strucker, Cossul, Brittes...
             Financiado pelo Banco do Brasil, o Ciclo Gaúcho entrou em decadência. Fracassos na colheita, má gestão do dinheiro emprestado em alguns casos... são, entre outros, fatores que explicam mais um momento de prosperidade com data de vencimento no Município.

Ciclo “Nipocerratense” (a partir de 1989) – Monocultura ou Policultura?

             Prolongamento do ciclo anterior, ele se iniciou mantendo a monocultura de soja. Chamado de Projeto Piratinga, sua instalação e funcionamento foram coordenados pela Companhia de Promoção Agrícola Campo como Etapa II do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos CerradosProdecer (daí a denominação nipocerratense por causa da parceria Brasil-Japão na mecanização desse ecossistema). Elias Valmor Marchese e Paulo Afonso Romano foram os responsáveis pela implantação do Prodecer em Formoso.
             Em 10 de janeiro de 1990 foi fundada a Cooperativa Agropecuária da Região do Piratinga Ltda (Coopertinga), que gerencia o Programa junto aos produtores rurais a ela associados também com investimentos financiados pelo Banco do Brasil. Essa empresa vem, lentamente, diversificando suas atividades produtivas cultivando outros produtos além da soja. Essa diversificação ainda não é suficiente para o Município deixar de ser uma vítima da Monocultura – sistema de produção vinculada a um tipo de mercadoria (commodities) que dá lucro (soja, milho...), mas não gera mudanças estruturais no desenvolvimento local, além de provocar impactos ambientais com conseqüências danosas à sustentabilidade do Município a longo prazo. Já está na hora de o Povo e as Autoridades de Formoso organizarem um amplo debate nas escolas e em todos os espaços de discussão (eleições, igrejas, associações...) sobre as conseqüências da monocultura e buscando novas perspectivas para a Economia Municipal com base nos princípios socioambientais do Desenvolvimento Local Integrado Sustentável.
             Além do AGRONEGÓCIO, o Município desde 1997 conta também com programas de financiamento da AGRICULTURA FAMILIAR por meio da instalação dos diversos assentamentos de Reforma Agrária. Mas tanto os assentamentos quanto o agronegócio, ambos baseados na monocultura e sem infra-estrutura local (rodovia asfaltada, eletrificação rural... embora esta parece que chegará ao Município todo...), simbolizam uma visão ultrapassada de progresso. Toda prosperidade em Formoso será falsa enquanto a população e os governantes não despertarem a consciência político-ambiental de que a exploração dos recursos naturais sem respeitar a Natureza e a concentração de rendas sem programas de acesso à cidadania são um problema que precisa ser debatido na construção de uma nova agenda de desenvolvimento para o Município.

Comércio Local


             Por ser uma localidade com economia de subsistência (roças) onde a mercadoria principal (gado) era exportada, o mercado consumidor local em Formoso era praticamente insignificante até 1940. Nas primeiras décadas do século XX destacaram-se a Venda de Seu Jovino (Jovino Alves Figueiredo) e a Venda de Seu Santana (José Alves Santana), ambos imigrantes de origem nordestina, além das vendas dos irmãos Silva Ornelas, que se iniciaram depois (anos 1930).
             As vendas são substituídas pelos armazéns (lojas maiores e com diversificação de produtos). Nesta segunda fase (1940-1970) destacam-se os comerciantes Osvaldo da Silva Ornelas, Benedito da Silva Ornelas, Marcelino Pereira Nery, Pedro Magalhães de Moura, José Dias Maciel, Vicente Moreira de Moura e o mais famoso deles – Claudemiro Pereira Lins. Na década de 1980 o COMÉRCIO VAREJISTA se diversifica e a firma “Comercial Herculano Pereira dos Santos & Filhos” é pioneira na implantação do self-service acabando com a “venda atrás do balcão” cujo consumidor não tinha acesso direto ao preço nem à mercadoria. O Município não tem comércio atacadista, mas nos anos 1990 entra na Era dos Supermercados. Desde o ano, passou a funcionar no prédio da antiga Casemg (Rua JK) a primeira Feira Comunitária de Formoso que ainda está em processo de estruturação. Ela foi instituída pela Lei Municipal nº: 188 de 8 de novembro de 2001, fruto de projeto apresentado pelo Vereador Odair Guedes Pimenta.

Indústria
            
             Formoso ainda não fez a sua “revolução industrial”. No Município sempre existiram fabriquetas de fundo de quintal com destaque para a existência de alambique, olarias, curtume, conserto de ferragens, “fábrica” de telhas e blocos (tijolo) de cimento, serraria, panificadora, marcenaria, laticínio, máquinas de beneficiamento de arroz, calcário, etc. Muitas delas já foram extintas, outras ressurgem e desaparecem ao longo do tempo mostrando a necessidade que o Município tem de fazer com que sua população e suas autoridades tomem consciência do quanto é vital a industrialização para o desenvolvimento e a geração de empregos dentro do território formosense. Como se trata de um município cuja base econômica é a agricultura, por que não debatermos a instalação de AGRO-INDÚSTRIAS não poluentes?

Transações Financeiras
            
             Os negócios em Formoso eram praticados por meio do escambo – troca de uma mercadoria por outra. Depois passou-se a usar dinheiro em alforjes. A partir dos anos 1930/40 alguns fazendeiros tornaram-se correntistas de bancos em Pirapora e Januária. De 1970 em diante, em Unaí, Buritis, Formosa... até que em 1980 chegou em Formoso a primeira agência bancária: o Banco Bradesco S/A, sucedido nos anos 1990 pelo Banco Bemge. Há um bom tempo o Município não tinha banco, mas no dia 28/7/06 foi inaugurada uma agência do SICOOB – Sistema de Crédito Cooperativo Brasileiro.
             A Contabilidade Pública (prefeitura e câmara de vereadores) foi organizada logo após a Emancipação (1963). A Contabilidade particular era feita em Unaí até 1980 quando instalou-se o primeiro escritório pelo Sr. Dinarte Henrique Guedes Ornelas. A Coletoria Estadual mantém no Município o escritório do Serviço Integrado de Assistência Tributária (SIAT), responsável pela fiscalização e recolhimento de impostos em Formoso. Desde a Instalação do Município foi criado o Serviço Municipal de Fazenda que tem, entre outras atribuições, fiscalizar e recolher os tributos municipais.

Este texto foi extraído do livro ECO-HISTÓRIA LOCAL: FORMOSO EM SALA DE AULA, de XIKO MENDES, Unifam, 2007.

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