Eles, os Torturadores da Consciência
Local, Roubaram Formoso Dentro de Mim
(Esse é um Recado aos que baterão palmas na
Minha Despedida).
Xiko Mendes
I –
Viagem Apocalíptica a Formoso no ano 2028
Estamos
em 2028!
Quanto
tempo passou desde que nasci nesse lugar!
Há
65 anos somos município!
Estou
velho, sexagenário e desiludido.
Aqueles
que me seduziram com esperança,
Todos
me traíram e destruíram meus sonhos.
E
nada mudou. Nada mesmo!
Tudo
continua como antes.
Minha
cidade percorrendo caminhos errantes
Sem
que o Progresso triunfe sobre a Hipocrisia ambulante.
Estamos
em 2028: são 250 anos de história
Desde
que D. Luiz da Cunha Menezes,
Um
governador de Goiás hospedou-se
Numa
fazenda que mais tarde seria
Chamada
de Formoso.
Foi
ele, D. Luiz – o “Fanfarrão Minésio”,
O
primeiro que testemunhou nossa origem em 1778;
E
depois foi ridicularizado nas “Cartas Chilenas”
De
um poeta inconfidente que fecundava revolução.
Mas
o que mudou em Formoso, em dois séculos e meio?
O
rio Piratinga morreu intoxicado.
Só
sobrou do rio São Domingos as pedras lindas.
Restou
tão somente o rio Carinhanha protegido
Dentro
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas.
O
jatobá centenário da Praça Felipe Tavares
Também
se cansou de tanta hipocrisia e secou.
Formoso
continua isolado, geograficamente.
Formoso
está no meio do Mapa do Brasil,
Mas
vive na “ilha” Bagominas,
Que
não é Bahia nem Goiás nem Minas.
Está
próximo distante dos centros mais civilizados,
Sem
contato com a maioria dos municípios vizinhos.
Cadê
os governantes que se elegeram
Nas eleições municipais de 2016, 2020 e 2024?
Onde
estão eles?
Quem
são esses hipócritas,
Que
me seduziram dizendo que realizaria meus sonhos?
E
depois de eleitos, sumiram?
Fui
usado tantas e tantas vezes por candidatos assim,
Mas
hoje, em 2028, velho e desiludido,
Eu
posto-me na encruzilhada, ponho a mão no queixo
E me
pergunto, com tristeza:
O que eles fizeram de nós, o Povo
Formosense?
Mataram
o futuro de nossas crianças!
Compraram
votos dos desempregados!
Roubaram
o dinheiro da Saúde!
Desviaram
a verba do asfalto!
E
ninguém reclama de nada.
Em
Formoso há uma placa no Imaginário:
“Reclamar
é crime!”.
Para
o Povo de Formoso,
Tudo
é normal, tudo é natural.
Essa
é a sina maldita dessa cidade de nome bonito,
Mas
com um povo resignado que adota o silêncio
Como
resposta em sua omissão secular.
Formoso
sempre foi assim – dizem eles.
Por
que mudar agora?
E
assim, de eleição em eleição,
Formoso
vai morrendo aos poucos,
Sepultando
as esperanças na curva incompleta,
Destruindo
sonhos de quem ainda tem coragem de sonhar.
E
você, o que está fazendo?
Será
mais um que vai me chamar de crítico impiedoso?
É,
meu amigo! É graças a você
Que
Formoso chegou onde estamos, em 2028,
E
nada, nada absolutamente,
Conseguiu
em 250 anos modificar
Essa
cidade de gente emudecida e cúmplice
Que
aceita tudo, sem reclamar de nada.
E se
você reclamar é logo chamado de doido, “cricri”...
Em
Formoso é proibido pensar;
É
proibido ter opinião própria;
Quem
pensa e sonha, logo é visto como adversário do governo.
Formoso
é prisioneiro da Teia da História.
E
dentro dela vai tecendo a tragicomédia
Que
somos nós: um povo que prefere sofrer
A
lutar, ferozmente, contra o seu silêncio conivente,
Que
permite 25 décadas de isolamento,
Que
provoca o suicídio do sonho e da esperança.
Em
Formoso a Roda Viva da História
Anda
para trás e marcha, desgovernada, para o abismo.
Mas
onde está o Futuro?
E
para onde foi o Passado?
Formoso
é silêncio!
Formoso
é impotência grávida de (des)encantamento.
Formoso
é esfinge: um enigma que se distancia do Passado
E
foge do Futuro.
Para
onde vamos?
II –
Carta para Meus Netos Lerem no Centenário da Emancipação de Formoso em 2063
A vocês, filhos que herdam de
Minas
O Espírito de Mineiridade moldado pela crença na
liberdade,
Pelo orgulho de seu Passado,
pela ética na República
E pelo respeito à vida e ao
povo numa Pátria Comunitária,
Deixo meus sonhos como um
legado e testemunho póstumos
Daquilo que não consegui ver e
vivenciar em Formoso,
Terra que fecunda esperança,
mas que há dois séculos
Espera Deus semear nela o
desenvolvimento para todos.
Sonhei com um Formoso de Minas
Onde exercer o direito à
Liberdade de Expressão
Não fosse mais motivo de
censura prévia entre alguns conterrâneos.
Sonhei com um Formoso onde o
câncer do analfabetismo
Não contaminasse mais nenhum
Formosense;
E que a ignorância política não
mais reinasse entre essa gente.
Sonhei com um Formoso onde não
seria mais preciso
Levar pacientes para Brasília
porque criamos uma boa rede hospitalar.
Sonhei com um Formoso onde os
rios Piratinga,
Carinhanha, São Domingos e seus
afluentes não morressem
Intoxicados pelo veneno que
contamina(va) o subsolo desse município.
Sonhei que muitos de meus
conterrâneos, em vez de fuxicarem
Sobre a vida do vizinho, se
desse ao trabalho de transformar a si mesmo
Para melhor contribuir
patrioticamente com o Povo Formosense.
Sonhei com um Formoso onde
combater a corrupção e
Exigir honestidade dos
governantes da nossa cidade
Não mais fosse visto como
“pecado” nem quem combata
A ladroagem de dinheiro público
nunca mais fosse apelidado de “cricri”.
Sonhei que várias empresas um
dia se instalariam em Formoso
Para que todos os eleitores
pudessem ter emprego,
Se tornassem livres e
independentes para expressar sua OPINIÃO
E que nunca mais alguém ousaria
comprar voto em troca
De pagamento de receita de
remédio, promessa de emprego público,
Pagamento de contas de água e
luz, carona na beira da estrada, etc.
Sonhei que Formoso teria
asfalto ligando seu território com todos
Os municípios da Região do
Marco Trijunção,
Nessa fronteira esquecida entre
Bahia, Goiás e Minas Gerais.
Sonhei que vocês, meus netos e
demais descendentes, nunca mais
Viveriam sob o reino do
silêncio cúmplice e da conveniência oportunista
Porque alguns poderosos se
julgam donos de Formoso e sua gente.
Sonhei...Sonhei...Sonhei...
Mas morri sem que o povo de minha
terra reconhecesse em mim
Alguém que em toda a sua
existência
Viveu todos os dias, todas as
noites e todos os anos,
Irmanado com a Minoria que luta
e acredita num Formoso
Onde Virtude e Nobreza de
Caráter,
Onde Simplicidade e Humildade
Franciscanas,
Onde “Compromisso e
Respeito pelo Povo”...,
Mais do que palavras que
agradam ao meu senso (est)ético,
Seja de fato o slogan de todos
nós, o Povo Formosense,
Gente que sonha ou se frustra
na gangorra das urnas;
Gente que ama Formoso,
indistintamente;
Gente que dá a vida em comunhão
ecumênica
Por um Formoso democrático,
justo, igualitário, transparente,
Decente e, sobretudo, onde
Felicidade, Justiça e Utopia
Guiem, definitivamente, esse
Povo na marcha silenciosa
Rumo ao Futuro; e que o
Passado, palimpsesto do que fomos,
Seja sempre uma Advertência
incômoda aos Patriotas que virão.
Mas
onde está o Futuro?
E
para onde foi o Passado?
Formoso
é silêncio e penumbra!
Formoso
é um ponto ofuscado
Na
curva em direção ao Infinito.
Formoso
perdeu-se na onda epicósmica do Caos;
E
fixou-se no Oco do Universo.
Formoso
é metaformose na encruzilhada;
É o
Tudo; é o Nada.
É o
devir nascituro, agonizado, que nunca veio a ser;
É o
Não-Ser inerte e inerme, engasgado na garganta de Deus.
Formoso
foi o último sonho de um patriota
Antes
do meu Apocalipse Existencial.
Eles,
os Torturadores da Consciência Local,
Roubaram
Formoso dentro de mim.
Chorei
quando eles mataram todos os sonhos
Que
tive, desde criança, por um Formoso diferente e melhor.
Dou-me
por vencido.
Desisti
de sonhar por Formoso de Minas.
Deixe
que o seu Povo, esse Ente Inominado,
Decida,
sozinho, sobre o seu próprio Destino
E
que sua História seja também o
Tribunal
que julgará nos próximos séculos
Os
erros e virtudes de uma cidade
Que
emudece, solitariamente,
Diante
do próprio sofrimento coletivo.
Adeus,
Formoso!
Adeus,
Torturadores da Consciência Local!
Que nesse Primeiro de Março de 2063
Quando Formoso comemora 100 anos de
Emancipação,
Alguém
se lembre de que meus livros sobre sua História,
Foi
a contribuição que dei a um povo sofrido,
Mas
que no Passado ergueu, altaneiro, a Bandeira
Do
Sonho no projeto heroico de desbravamento do Sertão.
Eles,
os nossos Antepassados, plantaram sonhos.
Eu,
um visionário frustrado, naufraguei no Mar da Desesperança.
Deus!
Deus! Oh Deus! “Onde estás que não responde”?
Deus:
Por que Formoso está tão perto de Brasília
E tão
longe do Futuro?
Por que
Formoso está tão perto de Deus e
Tão
longe do Céu?
É porque
Formoso sofre da Síndrome de Tântalo.
Deus: Cuide de Formoso!!!
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