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05/09/2011

POSSE DO ESCRITOR XIKO MENDES NA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO, EM LUZIÂNIA-GO EM 2006.

DISCURSO DE POSSE DO ESCRITOR XIKO MENDES na Academia de Letras e Artes do Planalto, Luziânia-GO, 5/11/06

Hoje é um dia muito especial na minha vida, um dia cuja manhã enobrece a minha alma, engrandece o meu ser e me deixa profundamente satisfeito por dignificar os meus sentimentos de mineiridade e goianidade moldada pela convivência com esse Estado desde quando nasci. Satisfeito, sobretudo, por ver confirmada aqui perante esta plêiade de gente também especial a certeza de mais um ato de reconhecimento público pelo trabalho simples, mas persistente que desenvolvo no campo da Historiografia Municipal do Planalto Central do Brasil.

Sou natural de Formoso de Minas onde nasci em 1968. Sou filho do casal João Mendes de Queiróz e Dona Esteva Rodrigues de Souza. Casado, pai de dois filhos, Professor de História e Filosofia, especialista em meio ambiente, e membro de algumas instituições que muito me honram, entre elas, a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ESCRITORES – ANE, a ACADEMIA PLANALTINENSE DE LETRAS e a ACADEMIA DE LETRAS DO NOROESTE DE MINAS, sediada ali na vizinha, saudosa e bicentenária Paracatu. A partir de hoje passo a ter a grata satisfação de também integrar a ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO como titular da Cadeira nº: 36, cujo patrono é também um mineiro: o escritor JOSÉ JÚLIO GUIMARÃES LIMA, que teve a felicidade de igualmente integrar esta honrada instituição.

Hoje é um dia de reencontros. E o primeiro reencontro é entre Luziânia e minha terra. Naquele distante ano de 1778 passava por Formoso de Minas o ilustre Governador da Capitania de Goiás, D. Luiz da Cunha Menezes, onde ali se hospedou e registrou a existência daquele lugar. Também em 1778, Santa Luzia, hoje Luziânia, era elevada à categoria de julgado com um território extenso que incluía Flores de Goiás, que faz divisa com Formoso de Minas. O tempo se encarregou de separar Formoso e Luziânia por causa da criação de novos municípios. A ligação entre estas duas cidades era feita pela antiga estrada real Picada da Bahia, que a BR-020 se encarregou de fazê-la desaparecer. Mas Brasília – esta cidade dos sonhos de todos nós, utopia da pós-modernidade – se encarregou de religar Formoso de Minas com Luziânia. Brasília me trouxe para morar em Planaltina, em 1989. E então, em 11 de dezembro de 1993, me reencontrei com Luziânia quando participei do 3º Encontro de Historiadores do Planalto organizado por esta Academia. Ali conheci a escritora, goiana de Formosa e ilustre integrante desta Academia: a educadora do Planalto, pioneira de Brasília, Dona Olinda Rocha Lobo. Com ela passei a conhecer melhor a ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO. Por intermédio de Dona Olinda, amiga de todas as horas, passei a freqüentar este sodalício, proferir aqui algumas palestras e compartilhar do convívio com esses que agora são meus confrades e confreiras. Com D. Olinda também me reencontrei com Goiás. Disse ela que virou professora em Sítio d’Abadia, este município goiano que está a menos de 2 Km da cidade onde nasci. Lá Dona Olinda conheceu Formoso e virou até hoje amiga de gente residente na minha cidade.

Desculpe-nos por rememorar esses detalhes. Mas neste momento não poderia omitir como foram construídos esses laços históricos e afetivos por meio dos quais hoje me torno membro desta academia por que Formoso de Minas, ex-distrito de Paracatu, é também parte desse Planalto Central que tanto nos encanta, é parte dessa história de ocupação do sertão pelo garimpo e o gado. E a velha Santa Luzia é cidade-coirmã da minha terra por que ambas são filhas de aventureiros procedentes de Paracatu como bem registrou o nobilíssimo historiador luzianense, Joseph de Mello Álvares, que data a origem deste município tendo como marco pioneiro a chegada do bandeirante Antônio Bueno de Azevedo em 13 de dezembro de 1746, que deixou Minas na travessia do São Marcos.

Participar como membro efetivo da ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO é, para mim, ter um eterno reencontro telúrico e sentimental com tudo o que há de belo, monumental e esplendoroso nesse território do Planalto que integra goianos, mineiros e brasilienses numa confluência de valores, ideais e projetos de integração do Brasil. Desde criança, sempre fui profundamente tomado por esse sentimento de PLANALTINIDADE mineiramente goianizada. Por isto fui morar em Planaltina, que já integrou como distrito, o Município de Luziânia, e muito deve ao povo desta cidade. E foi esse sentimento de profundo amor pelo Planalto que me levou a escrever em 1995 o meu primeiro livro cujo título é “O Mito da Interiorização através de Brasília”. De lá pra cá, em cada dia e cada vez mais, procuro conhecer e me apaixonar mais por este Planalto. Paixão esta que também seduziu o meu patrono, GUIMARÃES LIMA, mineiro de Três Pontas, terra onde nasceu o ex-Governador de Minas, Aureliano Chaves, a quem Formoso tanto deve por ter ali colocado a primeira rede de energia e água potável nos anos 1970.

Guimarães Lima, ex-Presidente da ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO, nasceu em cinco de janeiro de 1914 e faleceu no Rio de Janeiro em cinco de agosto de 1987. Foi um homem cuja vida foi toda dedicada ao desenvolvimento do Planalto Central exercendo funções no Serviço Público que muito contribuíram para o progresso de duas cidades inventadas no centro do Brasil: Goiânia e Brasília.

Goiânia foi o ponto de encontro entre o meu patrono e o Estado de Goiás. Em seu discurso de posse na cadeira que tem como patrono o sábio Jarbas Jayme na ACADEMIA GOIANA DE LETRAS, Guimarães Lima assim se referiu à sua chegada em solo goiano:

Vim para Goiânia a convite do seu Prefeito {Venerando de Freitas Borges} (...) e ao chegar tive a impressão de uma colméia de atividades: muita poeira, muito mato, caminhões, carros de boi, operários por todos os cantos e recantos, algumas ruas iniciadas e inúmeras veredas, lobeiras e unhas-de-gato dificultando o trânsito; casas de madeira em quantidade que me fizeram lembrar Canudos (...). Raros prédios de alvenaria como o Palácio das Esmeraldas (...)”.


Essa descrição emocionante do meu patrono revela muito claramente o sentimento que os mineiros têm por Goiás e seu povo por que Minas Gerais, terra de onde venho, não é apenas vizinha desse Estado, mas parceira do seu progresso, personagem dessa história de pioneirismo heróico manifesto na construção de Goiânia e Brasília, como bases fundadoras da Integração Nacional. Em Goiás, o mineiro Guimarães Lima foi o secretário do primeiro prefeito de Goiânia – como já mencionei, foi Diretor da Imprensa Oficial do Estado, promotor de Justiça em Catalão e Anápolis, Professor, Deputado, Secretário de Estado do Interior e Justiça no governo Coimbra Bueno, e Secretário de Segurança Pública quando o governador goiano era um filho de Planaltina: o Dr. Hosanah de Campos Guimarães, primeiro médico do Planalto Central e que foi membro efetivo desta academia. Em Brasília, Guimarães Lima foi Professor da UnB e coroou sua brilhante carreira no Ministério Público como Procurador Geral de Justiça do Distrito Federal.

Como escritor, Guimarães Lima publicou entre 1943 e 1984 oito livros: Catalão em Marcha, O Caso Michel, Nota Promissória, No Ministério Público, Goiás Libertado, Goiás: Terras e Almas, Patrono Jarbas Jayme e No Rolar do Tempo. Essas obras muito revelam do apego de Guimarães Lima pela terra e pelo povo goiano.

Fazer parte da ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO tendo Guimarães Lima como patrono é não apenas motivo de orgulho para qualquer cidadão, mas é o reconhecimento de que esta instituição nos seus trinta anos de existência sabe, com hombridade e justiça, honrar por meio desta homenagem todos aqueles que um dia prestaram relevantes serviços à Pátria, ao Planalto e a esta academia. Sinto-me envaidecidamente lisonjeado com a aprovação do meu nome como titular de cadeira neste sodalício. E saibam todos os confrades e confreiras que, dentro das minhas limitações, estarei comprometido hoje e sempre com o sucesso dos projetos propostos pela ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO. Embora faço questão de frisar que não serei um acadêmico representante oficial de Planaltina – por motivos de foro íntimo e por considerar que há outras personalidades a serem honradas com tão elevado título – tudo farei para que Planaltina, cidade que escolhi para viver, tenha na minha pessoa alguém que luta por sua cultura e sua história dentro desta academia.

Relembrando aqui o memorável tribuno EVANGELINO MEIRELLES (1882-1922), ilustre filho de Luziânia, deputado federal por Goiás, quando discursou em Planaltina durante o lançamento da Pedra Fundamental da nova capital do Brasil durante o Centenário da Independência, em 7/9/1922, faço minhas as palavras dele quando disse que “a mudança da sede do Governo para o ponto central do País a fim de que o progresso se irradie do centro para a periferia” faça com que “haja o aproveitamento do interior (...), reserva fabulosa da grandeza que nos espera em futuro cujo alvorecer” dará “matizes de ouro e pérolas ao horizonte da nossa Pátria estremecida; e também para que os Poderes Públicos (...) possam , com suavidade e bem aplicada sabedoria, cuidar (...) do benefício geral da Coletividade”.

Como Evangelino Meirelles e Guimarães Lima, sou filho do Interior e quero que a minha presença nesta Casa de Letras faça com que Formoso de Minas – lá no interior do meu Estado e Planaltina se sintam cada vez mais inseridas neste processo de inclusão de seu povo e de sua história no catálogo das maravilhas dignas de se conhecer e de se valorizar nos recônditos esquecidos deste país. Se Brasília é um sonho realizado, ainda está por se realizar o sonho de reintegração das cidades do Planalto, que existiam antes da mudança da Capital. A ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO, ao insistir na exigência estatutária de que seus membros sejam oriundos do Planalto, se inscreve como pioneira e porta-voz desse ousado projeto de valorização integrada dessa gente do Planalto Central.

Não poderia encerrar esta preleção sem antes agradecer a Deus; e agradecer pessoas maravilhosas como a educadora Olinda Lobo, o meu amigo historiador Paulo Bertran (já falecido), os meus amigos e convidados, o Presidente desta Casa de Letras, e a minha família e todos aqueles que colaboraram para que a minha entrada nesta Academia se consumasse a bom termo e com a convicção de que saio daqui hoje com a plena felicidade de ter me incluído num grupo de homens e mulheres patriotas devotados à cultura do Planalto Central, ao amor com desprendimento, à família, à ética e ao futuro do Brasil.

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