Veredas do
Vale do Rio Carinhanha
Xiko Mendes
I – Vereda Muriçoca
Num lugar muito bonito, sem montanha,
No chapadão que se perde no horizonte,
Há na margem esquerda do Carinhanha
Uma vereda estupidamente deslumbrante.
Na vereda não há córrego, apenas buritizais.
E na vereda o silêncio aprazível da chapada
Seduz os olhares em meio aos palmeirais
Infinitos e imponentes na terra encharcada.
Ali jaz um cemitério como a relíquia morta
De um mundo perdido na solidão do matagal.
Antes ali a prosperidade da Fazenda Muriçoca
Reinou por décadas nesse lindo cartão postal.
Um homem de visão e com força de gigante;
Negro, sereno, honesto e muito bom de prosa,
Ali está imortalizado nesse jazigo tão distante:
O inesquecível patriarca Firmino José Barbosa.
Da belíssima e riquíssima Fazenda Muriçoca
Restou minha saudade eternizada em sonhos
De ali voltar e percorrer sempre a mesma rota
Como itinerário em fuga de um mundo estranho.
Da sede da fazenda restaram apenas imagens
De um tempo que simboliza o fim de uma era.
No lugar da casa e do curral há belas árvores
Como testemunhas do que sobrou: uma tapera.
Como tudo em nossa existência e na natureza,
A Fazenda Muriçoca e a sua ruína monumental
Dentro daquele Parque
Grande Sertão Veredas
Significa a epopeia de um bandeirante imortal.
II – Vereda Gameleira
Não muito distante da Vereda Muriçoca,
Há outra paisagem também formosíssima:
Revisitá-la é como abrir janelas e portas
Para que o sol ilumine uma cena raríssima.
Na mesma margem desse rio sem montanhas
À direita do belíssimo ribeirão Canabrava
Se destaca um afluente que inspira façanhas
Para quem contempla belezas sem palavras.
É a Vereda Gameleira numa exposição adâmica
Expulsando a solidão para dar lugar ao sorriso
Numa planície chapadeira em visão panorâmica
Mostrando que ali é mesmo a réplica do Paraíso.
Também ali, bem à direita daquele veredão,
Escondido no meio do mato há outro mistério:
São sepulturas perdidas no meio do chapadão
Onde antes era localizado um grande cemitério.
Nesse jazigo de valentes sertanejos repousa
A lembrança de homens e mulheres do sertão
Como a Matriarca Maria Rodrigues de Souza,
Guerreira de priscas eras de nossa civilização.
Nada ali restou senão um cruzeiro de concreto
Colocado como prova de que ali um dia foi palco
Da conquista da terra em um arrojado projeto
De civilizar o mundo distante no meio do mato.
A você, que queira vivenciar um pouco disso,
Convido-lhe a viajar entre essas tantas veredas,
Com águas que vão para o rio São Francisco
Carregando com elas os segredos da natureza.
A você, que ainda não programou suas viagens
Ao nosso Parque
Nacional Grande Sertão Veredas,
Deixo aqui um convite para conhecer as paisagens
Desse mundo que nos encanta por tantas belezas.
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