COLUNA PRESTES NO NOROESTE DE MINAS.

Passagem da Coluna Prestes pelo
Noroeste de Minas (Vale do Urucuia) em 1925

(Parte da palestra inaugural proferida na abertura do Curso de Educação Ambiental para Multiplicadores, parceria Funatura/Secretaria Municipal de Educação de Formoso-MG, no final de novembro de 2006).

Xiko Mendes

(...).
Depois do Combate de Anápolis-Go em julho de 1924, a Coluna Prestes desloca em direção ao norte desse Estado e entra em Minas atingindo o extremo noroeste do atual município de Buritis na fronteira sul do Distrito de Formoso. Quem descreve é o Dr. Lourenço Moreira Lima, autor do diário da marcha revoltosa:

“A 11 de agosto (de 1925) galgamos a Serra do Paranã
e entramos em Minas tendo ocupado o lugarejo São João do Pinduca (atual Distrito de Serra Bonita), agregado de casas habitadas por pobres negros, todos papudos, que ali vivem miseravelmente, apresentando um aspecto físico de profunda degenerescência, um verdadeiro fim da raça, extinguindo-se naquelas brenhas, segregados da Civilização (...).
É uma massa amorfa que não tem a idéia de liberdade, um verdadeiro rebanho de brutos, vivendo uma vida puramente vegetativa (1)”.

Saindo de Serra Bonita – distrito de Buritis-MG – a Coluna Prestes seguiu em direção a cidade de São Romão chegando ali em 19 de agosto de 1925, também segundo Lourenço Moreira Lima. Com noventa revoltosos sob o comando de João Alberto, a Coluna não encontrou ali o Prefeito do Município recém-instalado, Major Saint Clair Fernandes Valadares(1871-1948). Perambularam pelo Vale do Urucuia até 24 de agosto quando bateram em retirada deixando o atual Noroeste de Minas em dois de setembro de 1925 – dia em que a Coluna Prestes atravessou o rio Carinhanha, em área hoje pertencente a Formoso-MG, entrando no município de Cocos-BA e, depois, dia 7/9/25, em Sítio d’Abadia-GO de onde rumou para o Norte/nordeste de Goiás.
A Historiografia mais especializada sobre o percurso da Coluna Prestes (2) em nenhum momento menciona outras localidades do Vale do Urucuia (Noroeste de Minas) que tenham merecido registro da passagem desses revoltosos – como eram tradicionalmente conhecidos os membros desta expedição. O motivo, obviamente, decorre do fato de que naquela década de 1920 as cidades de São Romão e Paracatu eram os municípios existentes neste vasto território urucuiano sendo as demais localidades apenas sede de distritos: era o caso, por exemplo, de Buritis, Formoso, entre outros. Portanto, é importante frisar que a Coluna Prestes pode até ter passado na área urbana de muitos dos atuais municípios do Vale do Urucuia sem que, para isto, sejam necessários documentos comprobatórios.

Era hábito entre os revoltosos, como estratégia militar frente ao inimigo (a Polícia Volante do Governo), dispersar cavaleiros em diferentes localidades para identificar potencial reação na região concentrando o grosso da expedição nos lugares de maior importância por serem sedes de municípios – como já assinalamos. A tradição oral na região do Vale do Urucuia conservou ao longo do século XX informações de que a Coluna Prestes (com certeza parte de seus cavaleiros) estiveram dentro da zona urbana dos antigos distritos de São Romão como Buritis, Arinos, Formoso, entre outros existentes àquela época.

Notas bibliográficas:

1 – Lima, Lourenço Moreira; A Coluna Prestes: Marchas e Combates, Sp, Brasiliense, 1945, págs. 180 e 182; In: Mendes, Xiko; Formoso de Minas no final do Século XX – 130 Anos!, Edição da Prefeitura de Formoso-MG, 2002, Pág. 171/172.
2 – Consulte:
Drumond, José;A Coluna Prestes: Rebeldes Errantes, 2ª Ed., Sp, Brasiliense, 1987, págs. 45-48.
Amando, Jorge; O Cavaleiro da Esperança: A Vida de Luiz Carlos Prestes, 34ª Ed., Rio, Record, 1987, págs. 131-135 e 161.
Meirelles, Domingos; As Noites das Grandes Fogueiras: Uma História da Coluna Prestes, 2ª Ed., Sp, Record, 1995, págs. 418-421.
Prestes, Anita Leocádia; A Coluna Prestes, Sp, Brasiliense, 1990, págs. 185-223, 258-296.